domingo, 1 de outubro de 2023

“Medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos para tratar a obesidade” em vez de “remédios para perda de peso” – por que a linguagem importa

“Medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos para tratar a obesidade” em vez de “remédios para perda de peso” – por que a linguagem importa – uma declaração oficial da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM)

ABSTRATO

A obesidade é em grande parte subtratada, em parte devido ao estigma que envolve a doença e o seu tratamento. A utilização do termo “remédios para emagrecer” para se referir a medicamentos para o tratamento da obesidade pode contribuir para esse estigma, levando à ideia de que qualquer pessoa que queira perder peso poderia utilizá-los e que o uso em curto prazo, apenas na forma ativa fase de perda de peso seria suficiente. Pelo contrário, a utilização de termos como “medicamentos para tratar a obesidade” ou “medicamentos anti-obesidade” transmite a ideia de que o tratamento é dirigido à doença e não ao sintoma. Este comunicado conjunto da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM) pretende alertar a imprensa, os profissionais de saúde e a comunidade científica sobre a importância do uso adequado da linguagem, com o objetivo de melhorar o tratamento da obesidade.

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença crónica comum associada a diversas comorbilidades, incapacidade e mortalidade, bem como baixa qualidade de vida; no entanto, ainda é amplamente subdiagnosticada e subtratada.

O estigma da obesidade é altamente prevalente, assim como o estigma contra o seu tratamento, seja ele médico ou cirúrgico.

Há alguns anos, um editorial da Expert Opinion on Drug Safety discutiu algumas das razões pelas quais a farmacoterapia da obesidade é estigmatizada.

Parte das razões pode ser atribuída à ideia generalizada de que, em vez de tratarem a obesidade em si, esses medicamentos são “medicamentos para perder peso”; como tal, vistos como medicamentos que devem ser usados ​​em curto prazo, apenas durante o período agudo de perda de peso.

Além disso, quando nos referimos a esses medicamentos como “remédios para emagrecer”, contribuímos para a ideia de que seu uso tem objetivo estético e pode ser consumido por qualquer pessoa que deseje emagrecer. 

Neste pequeno artigo, gostaríamos de enfatizar porque a comunidade científica, assim como a mídia, deveriam definitivamente parar de usar o termo “medicamentos para perder peso” e passar a usar “medicamentos para tratar a obesidade”, “medicamentos anti-obesidade” ou alguns termos semelhantes que enfatizam que o tratamento visa uma doença e não um sintoma.

• O estigma da farmacoterapia da obesidade

Apesar do conhecido fardo econômico e de saúde da obesidade, o tratamento farmacológico é amplamente subutilizado.

Em 2015, nos EUA, apenas um em cada 50 pacientes com obesidade recebeu prescrição.

Uma análise mais recente sugeriu um ligeiro aumento nas prescrições, atingindo 3% de adultos com obesidade em 2019.

Em 2016, o número de prescrições dispensadas para diabetes (excluindo insulina) foi 15 vezes superior ao número de prescrições para tratamento da obesidade.

Mesmo quando se consideram programas focados na perda de peso para indivíduos com obesidade, quase toda a atenção é dada às mudanças no estilo de vida.

Num programa de controle de peso denominado MOVE!, centrado em veteranos norte-americanos com excesso de peso ou obesidade, apenas 1,1% recebeu prescrição de medicação para obesidade, sendo o orlistat o medicamento mais prescrito, atingindo 70% do total de medicamentos prescritos.

Além disso, um recente estudo de mercado sugeriu que 50% dos pacientes com obesidade nunca receberam prescrição de medicamentos anti-obesidade e, quando prescritos, a manutenção do tratamento após 12 meses foi tão baixa quanto 2%.

Além disso, mesmo quando se toma medicação antiobesidade, a persistência é baixa.

No estudo ACTION-IO, que revelou pensamentos e percepções tanto de profissionais de saúde (HCPs) quanto de pacientes que vivem com obesidade (PcO), apenas 40% dos PcO consideraram os medicamentos uma opção eficaz em comparação com 30% dos HCPs; além disso, os medicamentos foram discutidos em apenas 18% das consultas.

No entanto, as modificações no estilo de vida por si só foram consideradas eficazes por quase 80% tanto das PcO como dos profissionais de saúde, apesar de as evidências apontarem para um efeito limitado destas intervenções isoladamente.

Como exemplo, uma meta-análise altamente citada e bem conduzida mostrou que a perda média de peso a médio e longo prazo alcançada com programas abrangentes de modificação do estilo de vida é de cerca de 3 kg.

Outros estudos mostram que apenas 10% dos pacientes são capazes de perder e manter uma perda de peso de 10% após um a dois anos em programas intensivos, mas a sua combinação com medicamentos pode melhorar significativamente os resultados, como vários ensaios clínicos randomizados (ECR) bem conduzidos. concluíram.

É digno de nota, no entanto, que as respostas ACTION-IO dos profissionais de saúde apontam claramente que evidências de alto nível dos ensaios clínicos randomizados não estão sendo usadas para orientar as decisões dos profissionais de saúde sobre a obesidade.

• Algumas razões para o uso limitado da farmacoterapia para obesidade e sua estigmatização

No referido editorial de 2015, Halpern e Halpern discutiram diversas razões pelas quais existe estigma em torno dos medicamentos antiobesidade por parte de médicos, pacientes, agentes de saúde pública, partes interessadas e até agências reguladoras.

Foram elas: 1) a já citada ideia de que a obesidade não é uma doença, mas principalmente uma “escolha”; 2) o ganho de peso ocorre após a interrupção do tratamento; 3) a perda de peso é menor do que o previsto pelos pacientes e médicos; 4) drogas são comumente utilizadas por razões estéticas; 5) existe a percepção de que estão associados a muitos efeitos secundários e riscos graves (e, de fato, vários medicamentos foram retirados do mercado nas últimas décadas por razões de segurança); 6) como doença comum, a obesidade é geralmente tratada na atenção primária, onde o treinamento dos profissionais de saúde quanto ao seu tratamento é muitas vezes deficiente.

O custo também é uma razão importante para o baixo uso de medicamentos em geral e, na obesidade, pode ser um grande desafio para a adesão a longo prazo.

Isto é particularmente verdadeiro no Brasil, onde quase 100% dos medicamentos antiobesidade são pagos do próprio bolso, uma vez que não existem medicamentos antiobesidade gratuitos oferecidos pelo sistema público de saúde e os seguros de saúde geralmente não cobrem medicamentos ambulatoriais; na verdade, este cenário de baixa cobertura medicamentosa para a obesidade também é regra em vários outros países.

As discussões sobre a disponibilidade de alguns desses medicamentos no serviço público têm levado à inação, uma vez que o estigma é predominante. 

Deve-se considerar também que os custos de incorporação podem ser muito elevados, devido à elevada prevalência de obesidade na população adulta.

Contudo, como a obesidade está associada a maior morbidade e mortalidade, pode-se argumentar que tratá-la poderia reduzir custos diretos e indiretos.

Além disso, mesmo com a disponibilidade de alguns medicamentos, a falta de treinamento sobre obesidade nas escolas médicas poderia resultar no seu uso incorreto.

Uma pesquisa recente nos EUA descobriu que menos de 10% dos médicos utilizam diretrizes sobre obesidade para fundamentar suas decisões de tratamento.

Não há dúvida, porém, de que a principal razão para a rejeição de medicamentos antiobesidade é o estigma da própria obesidade.

• Estigma de peso e a importância da linguagem

O estigma na saúde é muito comum em diversos cenários e populações, como em indivíduos com doenças infecciosas, deficiências, doenças mentais, entre outros.

O estigma do peso, definido como atitudes e ações negativas em relação às pessoas com sobrepeso ou obesidade, prejudica a saúde e o bem-estar e é percebido em ambientes como no local de trabalho, na escola, em casa e até mesmo em ambientes de saúde.

Em pesquisa brasileira on-line patrocinada pelas sociedades ABESO e SBEM, constatou-se que entre os indivíduos com obesidade 72% sofreram constrangimento em casa por parte de familiares, 60% em unidades de saúde e 55% no trabalho.

Esse número é maior em indivíduos com IMC mais elevados e, naqueles com IMC acima de 40 kg/m2, 98% já passaram por algum constrangimento em algum momento e 25% relataram constrangimento diário.

Entre as diversas consequências de tais atitudes negativas está a internalização do estigma do peso.

O estigma de peso internalizado (IWS) refere-se a atitudes e pensamentos negativos sobre si mesmo (autoestigma), nos quais as pessoas com obesidade acreditam e agem como se esses estereótipos estivessem corretos. 

Indivíduos com maior IWS correm risco de compulsão alimentar e emocional, maior ganho de peso e diversas complicações de saúde.

Como tal, os profissionais de saúde devem reconhecer que também estão sujeitos a preconceitos de peso e que a forma como comunicam com os pacientes pode ter um efeito profundo nos resultados relacionados com a saúde.

Além disso, o estigma relacionado com o peso, ao contrário de outros estigmas, não parece estar diminuindo, e como a obesidade é normalmente vista como culpa do indivíduo, isto poderia levar à inação por parte dos governos e de outras partes interessadas, tanto nas estratégias de prevenção como no tratamento.

Na verdade, a retirada de alguns medicamentos pelas agências reguladoras pode ter sido, pelo menos parcialmente, influenciada pelo estigma do peso, e o fato de muitos medicamentos terem sido retirados no passado tem impacto directo no investimento em novos medicamentos.

A importância da linguagem tem sido destacada no esforço atual para reduzir o estigma relacionado ao peso, e tem sido um tema em diversas revistas sobre obesidade e diabetes, em diretrizes, bem como em publicações intersetoriais. reuniões, documentos e até um livro inteiro no Brasil.

Surgem várias questões sobre como comunicar corretamente com os pacientes – evitando o uso de palavras de julgamento, por exemplo.

Um dos pontos mais críticos é a promoção do uso da linguagem “as pessoas em primeiro lugar”.

O entendimento é que um indivíduo não deve ser definido pela sua doença (como pelo uso dos termos “obeso” ou “diabético”), mas sim conviver com essa doença (“indivíduo com obesidade” ou “com diabetes”).

Um aspecto particular das doenças crônicas como a obesidade é que, embora não tenham cura, podem ser controladas.

Dessa forma, um indivíduo que apresentou índice de massa corporal (IMC) elevado e perdeu peso considerável, apesar de não se enquadrar na classificação de obesidade pelo IMC, ainda deveria ter a obesidade (ainda que controlada) como um de seus diagnósticos.

Recentemente, a ABESO e a SBEM divulgaram uma proposta de nova classificação da obesidade baseada na trajetória do peso que destaca esses pontos e que, na opinião de ambas as sociedades, ajuda a reduzir o estigma ao destacar que a “normalização” do IMC não é o objetivo de um tratamento da obesidade , e que as metas de peso devem ser individualizadas.

Em conjunto, acreditamos que o uso comum do termo “medicamentos para perder peso” pela mídia e pelo público em geral, bem como pelos médicos e pela comunidade científica, contribui para o estigma e, certamente, que “a linguagem é importante”.

Como tal, propomos que façamos um esforço para abandonar o uso de “medicamentos para perder peso” nas publicações científicas, mas sobretudo, nos meios de comunicação social (visto que o seu uso é mais difundido).

• “Medicamentos para tratar a obesidade” ou “medicamentos anti-obesidade” são extremamente diferentes de “medicamentos para perder peso”

Numa simples pesquisa no Google até junho de 2023, o termo “medicamentos para perder peso” leva a 2.200.000 resultados e “medicamentos para perder peso”, a mais 630.000 resultados. Por outro lado, uma pesquisa por “medicamentos anti-obesidade”, “medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos (ou medicamentos) para tratar a obesidade”, leva a apenas 428.000 resultados, ou 14% da primeira pesquisa. 

“Medicamentos (ou drogas) para obesidade” leva a 170.000 resultados extras, mas o termo pode ser enganoso. 

É claro que existem diferenças de interpretação entre termos em diferentes línguas, mas esta pesquisa é um bom exemplo dos termos mais comuns utilizados numa base de dados pública. 

Nas bases de dados acadêmicas, felizmente, o cenário muda um pouco.

O PubMed usa, em seu banco de dados Medical Subject Headings (Mesh), o termo “agentes anti-obesidade”, no qual aparecem mais de 19.000 resultados, e “medicamentos/agentes/medicamentos para perda de peso” no PubMed leva a muito menos resultados (menos de 500). 

Assim, pode-se concluir que o meio acadêmico está mais consciente desta diferença (embora medicamentos para emagrecer seja um termo geralmente ouvido em conferências e comunicações médicas), mas existe uma lacuna entre a produção científica de conhecimento nesta área e a como é traduzido para o público em geral, especialmente na mídia. 

Como tal, é importante que a comunidade acadêmica esteja consciente desta diferença e aumente os seus esforços para melhorar a linguagem, colmatar esta lacuna e reduzir o estigma. 

Mas por que isso importa e não é simplesmente uma questão semântica?

Em primeiro lugar, a perda de peso é apenas uma pequena parte do tratamento da obesidade em si.

Geralmente, após um curto período de perda de peso, o peso atinge um patamar, e se a perda de peso alcançada for considerada adequada, o tratamento da obesidade continua numa fase de manutenção do peso.

A retirada de medicamentos nesse período – o que é muito comum, por iniciativa do próprio paciente ou por recomendação médica – leva ao reganho de peso, como devemos esperar de qualquer doença crônica.

O fato de a suspensão de medicamentos para diabetes ou hipertensão poder levar ao comprometimento do controle glicêmico e da pressão arterial não surpreende ninguém. 

Apesar disso, com a obesidade existe um equívoco comum de que a recuperação do peso é uma falha do tratamento, e não uma recorrência esperada de uma doença crônica não tratada.

Se usarmos o termo “medicamentos para perda de peso”, a recuperação do peso após a retirada é um argumento justo contra o seu uso.

No entanto, o entendimento por parte dos profissionais de saúde e das PCO de que os medicamentos são úteis tanto para a redução como para a manutenção do peso pode ajudar muito na adesão a longo prazo.

O principal objetivo do tratamento da obesidade não é “normalizar o IMC”, mas sim melhorar a saúde e a qualidade de vida, o que pode ser alcançado através de uma perda de peso de 5%-15%, e esse conceito é destacado na recente proposta da SBEM e da ABESO de uma nova classificação de obesidade.

Quando a “normalização” do IMC é o único objetivo do tratamento, há grande probabilidade de frustração do paciente quando o peso atinge um platô, levando à ideia de que a medicação não funciona mais e deve ser interrompida.

Na verdade, no patamar de peso, a medicação atingiu o seu efeito máximo na redução de peso e a manutenção do peso durante o tratamento é um sinal de que ainda está funcionando.

Além disso, o termo “medicamentos para perda de peso” não distingue quem deve ser tratado e o tratamento da obesidade pode ser confundido com o tratamento do “desejo social de perda de peso” que é difundido na sociedade.

Isto contribui para a ideia de que os medicamentos são utilizados principalmente por razões estéticas (e por muitas pessoas que não precisam deles) e não para tratar uma doença associada a problemas de saúde e psicológicos.

Além disso, não devemos esquecer que tratar a obesidade é mais do que apenas controlar o peso, tal como endossado pelas Directrizes de Prática Clínica Canadianas, que tiveram múltiplas revisões positivas.

O foco na saúde mental, a redução do estigma internalizado, o tratamento de comorbidades, a promoção do exercício físico (que melhora a saúde independentemente da própria perda de peso), o estabelecimento de metas e objetivos de longo prazo, entre outros, são partes essenciais do tratamento.

Sendo assim, os medicamentos são apenas uma das diversas estratégias para o enfrentamento de uma doença crônica, podendo também ajudar a reduzir episódios de compulsão alimentar ou perda de controle alimentar, além de controlar a fome e aumentar a saciedade, e ainda melhorar marcadores metabólicos e comorbidades, independentemente de perda de peso.

Na verdade, existem boas evidências de que pelo menos alguns destes medicamentos são capazes de reduzir os marcadores de risco cardiovascular e melhorar as doenças relacionadas com a obesidade, embora exista uma grande variabilidade de efeitos dependendo dos mecanismos de ação de cada medicamento.

Infelizmente, não temos evidências diretas de que esses medicamentos reduzam os resultados cardiovasculares ou outros resultados graves na PcO, mas isso pode mudar no futuro, à medida que estudos mais recentes visam responder a essas questões.

Finalmente, devemos diferenciar os medicamentos aprovados pelas agências reguladoras dos medicamentos e suplementos vendidos sem receita médica, que são frequentemente vendidos como “agentes para perda de peso” e são responsáveis ​​por uma taxa inaceitavelmente elevada de consultas de emergência.

A utilização da “farmacoterapia anti-obesidade” pode ajudar a desfazer este equívoco, lembrando-nos que um medicamento a ser utilizado continuamente para tratar uma doença crônica deve ser submetido a um elevado nível de escrutínio de segurança, tal como quando aprovado pelas agências reguladoras.

Uma desvantagem potencial de enfatizar “medicamentos para obesidade” é a sua compreensão no contexto de indivíduos com excesso de peso que, no entanto, também podem se beneficiar do tratamento. 

As diretrizes e indicações nos rótulos variam de acordo com o medicamento e o país, mas indivíduos com mais de 25 ou 27 kg/m² com doenças relacionadas à obesidade são candidatos a medicamentos antiobesidade, apesar de não serem afetados pela obesidade pelos critérios de IMC.

No entanto, embora a obesidade ainda seja diagnosticada pelo IMC, várias diretrizes apontam que o IMC tem muitas limitações numa base individual, e a obesidade deve ser definida pelo seu impacto na saúde.

Na verdade, a obesidade foi definida pela Organização Mundial de Saúde como uma “acumulação excessiva de gordura que prejudica a saúde”.

Assim, utilizando esse conceito, um indivíduo com excesso de peso e com comorbidades pode ser considerado como portador de obesidade clínica, e a indicação de uso prolongado de medicamentos, neste caso, é semelhante à de um indivíduo com IMC mais elevado. 

Uma comissão foi recentemente criada pela Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos e pelo Colégio Americano de Endocrinologia para definir a obesidade e estabelecer o seu diagnóstico independentemente de limites rigorosos de IMC.

Em relação a outras doenças crônicas, como a diabetes, a hipertensão ou a hiperlipidemia, surgem também diferentes formas de nomear os medicamentos, mas estas são geralmente condições menos estigmatizadas, em que a nomenclatura pode ser menos importante para a percepção do tratamento. 

No entanto, na hipertensão, “medicamentos anti-hipertensivos” são mais utilizados do que “medicamentos para redução da pressão arterial”, e “medicamentos hipotensores” raramente são usados; no diabetes, “antidiabético” ainda é mais comum do que “redutor de glicose” ou “anti-hiperglicêmico”. 

Uma exceção é a hipercolesterolemia, na qual “medicamentos hipolipemiantes” é um termo comum e amplamente utilizado, embora no banco de dados Mesh o termo correto seja “agentes anticolesterolêmicos”. 

Porém, a estigmatização da hiperlipidemia é quase inexistente.

Curiosamente, é comum a não adesão aos agentes anticolesterolêmicos, bem como a sua interrupção após a queda do colesterol no sangue, e é possível que apontar a importância a longo prazo não apenas da redução do colesterol em si, mas também da prevenção de doenças cardiovasculares doença, pode contribuir para maior adesão ao tratamento.

Assim, embora esta discussão sobre a obesidade pareça mais urgente para melhorar as percepções sobre o tratamento e reduzir o estigma, isso não implica que a linguagem não esteja interferindo também no tratamento de outras doenças. 

Em cada caso, é necessária uma reflexão crítica sobre as razões da escolha de termos específicos em detrimento de outros.

Na Tabela 1 resumimos os principais argumentos para o uso correto da linguagem neste contexto.

Concluindo, na obesidade, as palavras são importantes e a forma como disseminamos as mensagens pode ajudar os indivíduos que procuram apoio ou perpetuar o estigma. 

Além disso, a forma como nomeamos as coisas leva a enormes diferenças na forma como elas são percebidas e pode mudar a nossa perspectiva. 

Acreditamos que é um “apelo à ação” para divulgar a importância de evitar o termo “medicamentos para perda de peso” nos meios de comunicação e publicações científicas, e o uso generalizado de “medicamentos anti-obesidade”, ou “medicamentos para tratar a obesidade” é essencial para ajudar a reduzir o estigma e melhorar a adesão e persistência no tratamento da obesidade.

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By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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