O período de festas de fim de ano costuma trazer encontros familiares, celebrações e também comentários invasivos sobre peso e emagrecimento. A prima invejosa, a tia chata, o tio terrorista. Todos provavelmente ignorantes. Para quem está em tratamento da obesidade, especialmente com medicamentos modernos como os análogos de GLP-1 (em especial Tirzepatida), a pergunta aparece quase sempre: “Emagreceu? Está usando canetinha emagrecedora?”
Este texto é um alerta médico e humano: você não é obrigado a contar. É isso que tenho orientado os meus pacientes aqui em Goiânia !
Já expliquei centenas de vezes aqui no blog ao longo desses 15 anos, profissionais da saúde bravejam isso aos quatro cantos nas redes sociais, até a OMS recentemente falou sobre isso: Obesidade é uma doença. Porém, a sociedade AINDA não entendeu isso. Do ponto de vista médico, não há mais debate: obesidade é uma doença crônica, multifatorial e recidivante, reconhecida por organizações científicas nacionais e internacionais.
A obesdidade envolve:
- Forte componente genético
- Aspectos nutroneurometabólicos
- Alteraçoes no metabolismo energético
- Inflamação crônica de baixo grau
- Fatores ambientais: ambiente obesogênico e talvez contaminantes ambientais que ainda nem conhecemos
- Fatores emocionais e comportamentais
- Tratamento multidisciplinar
Mesmo assim, socialmente, ainda é tratada como:
- Falha de caráter
- Falta de disciplina
- “Desleixo”ou preguiça
Esperar compreensão em um almoço de família é ilusão. Dar palestrinha, tentanto se explicar entre o peru, a rabanada e o tio terrorista do Zap é perda de tempo. Não estrague uma noite festiva. Isso vale para o natal e para o reveillon.
E por que familiares questionam o uso de medicamentos para obesidade?
Grande parte da resistência ao tratamento medicamentoso vem de experiências do passado, principalmente com os noradrenérgicos (femproporex, anfempramona e mazindol, fórmulas do Dr. Caveirinha contendo sub-doses de medicações). Muitos familiares viveram uma época em que:
- A doença era negligenciada,
- Os medicamentos eram mal indicados,
- Os com maior nível de eficácia eram prescritos de forma errada,
- Mesmo os bem indicados apresentavam um perfil de efeitos colaterais bem diferente do das "canetas", principalmente na esfera psiquiátrica e cardiovascular,
- Havia uso sem acompanhamento médico,
Isso criou uma memória coletiva de medo, principalmente em quem nasceu antes dos anos 2000. Hoje, o cenário mudou profundamente.
O que mudou no tratamento medicamentoso da obesidade?
Atualmente, os medicamentos usados no tratamento da obesidade:
- Têm mecanismo de ação bem definido
- Passaram por ensaios clínicos robustos
- São indicados com critérios claros
- Fazem parte de um plano terapêutico individualizado, não isolado
- Bem menos efeitos colaterais
- Além de promoverem perda de peso melhoram a saúde cardiovascular, diminuem a inflamação, tem ação positiva na função renal, alguns tratam apnéia do sono, outros reduzem drasticamente a esteatose hepática.
E aí te pergunto, você vai acreditar no terrorismo do seu tio, que nunca leu um artigo sobre obesidade? No máximo assistiu a algum vídeo no YouTube de algum médico charlatão falando inverdades sobre o tratamento e fazendo alarde sobre efeitos colaterais?
Vai acreditar na prima invejosa que utilizou a medicação sem acompanhamento, não praticou atividde física, perdeu músculo, teve queda de cabelo e do nível de energia e reganhou tudo quando parou? Vai acreditar em quem fez tudo errado?
Ou vai acreditar no seu médico? Que é especialista no assunto, que trata dezenas de pessoas diariamente, estuda o tema dia e noite. Lê artigos, assiste aulas, vai a congressos sobre o tema. Entenda: Quem critica raramente estudou o tema com profundidade!
O impacto psicológico dos julgamentos durante o tratamento
O maior risco dessas conversas não é o constrangimento momentâneo, mas sim o efeito silencioso e cumulativo sobre o paciente. Comentários repetidos e inconvenientes podem gerar:
- Culpa
- Vergonha
- Medo de “estar fazendo algo errado”
- Abandono precoce do tratamento
E do ponto de vista médico, eu como nutrólogo afirmo que isso é grave. Afinal, abandonar tratamento não é neutralidade, é risco. Descontinuar tratamento abruptamente é pedir para reganhar o peso. Hoje a gnte tem convicção de que a obesidade sem tratamento adequado está associada a:
- Maior risco de desenvolver Diabetes tipo 2, Hipertensão arterial sistêmica, doenças cardiovasculares, doença hepática gordurosa, dor crônica, artrose, transtornos psiquiátricos e inflamação sistêmica
Silenciar sobre o tratamento pode ser proteção. Abandoná-lo nunca é. Sendo assim, lembre-se: Você não deve explicações sobre sua saúde
Tratamento médico não é vaidade. Não é moda. Não é “atalho”. É cuidado.Você não precisa:
- Convencer familiares inconvenientes
- Tentar educar a prima invejosa
- Justificar decisões médicas para o tio terrorista
- Fazer palestrinha entre o chester e a rabanada
Às vezes, a atitude mais saudável é simplesmente não entrar no debate. Ou então:
- Que música legal está tocando, quem canta? E sorrir !
- Você assistiu ao documentário da Taylor Swift ?
- O que você comprou de amigo secreto? Sorria e arregale os olhos.
🧊 Ou então você pode peitar a prima chata, a tia invejosa, o tio terrorista, pesar o clima e dar algumas respostas secas que congelam a mesa (sou da paz, não recomendo a treta!):
- “Usei sim. Quer saber também meu colesterol e meu exame de fezes?”
- “Uso. Assim como você usa opinião sem ser solicitada.”
- “Uso… mas só falo sobre isso depois da sobremesa e do imposto de renda.”
- “Uso. Mas o Dr. Frederico Lobo, meu nutrólogo, pediu sigilo igual senha de banco.”
- “Uso, mas só converso sobre saúde com quem leu PubMed.”
- “Uso… mas é um assunto íntimo, tipo conta bancária.”
- “Uso, mas meu contrato familiar não inclui auditoria médica.”
- “Uso. Feliz Natal" E muda de assunto sorrindo
- “Uso. Inclusive diminuiu minha tolerância a perguntas inconvenientes.”
- “Uso. Mas meu médico proibiu discutir com leigos.”
- “Por que isso é importante pra você?”
- “Você costuma perguntar isso pra todo mundo?”
- “Essa pergunta vem com sobremesa?”
- “Curioso… nunca te perguntei nada sobre seu corpo.”
- “Interessante essa pergunta num jantar de família.”
- “Uso sim. Assunto encerrado.”
- “Uso. E estou muito feliz. Obrigado pela preocupação.”
Lembre-se: o objetivo não é convencer, é se proteger. O humor é um excelente limite social.
Quem fica sem graça aprende rápido. Mas você quer estragar o clima de natal ou quer ser educada?
- “Prefiro não falar sobre tratamento médico em reuniões de família.” aqui você dará uma resposta clara, adulta e impossível de rebater.
- “É algo que estou acompanhando com meu médico, está tudo bem.” Já com essa resposta você passa segurança e encerra o assunto.
- “Depois eu te explico melhor, hoje quero só aproveitar a noite.” Simples, educada e evasiva.
- “É um assunto mais pessoal pra mim.” Pronto, limite direto, sem agressividade.
- “Meu nutrólogo, o Dr. Frederico Lobo prefere que eu não discuta isso fora do consultório.” Excelente escudo e ainda indica paciente pra mim!
- “Está tudo acompanhado e sob controle.” Uma frase curta, em tom calmo, sereno, natalino e fim de conversa.
- “Estou bem, obrigada pela preocupação.” Resposta clássica que encerra com elegância.
- “Prefiro falar de outra coisa agora.” Aqui você será assertiva, respeitosa e definitiva.
Complemente com um sorriso, mostrando que além de ter emagrecido, está feliz !
Um recado final, pra você leitor/paciente/aluno/amigo: Se você está em acompanhamento adequado, com indicação correta e monitorização, você está fazendo o que é cientificamente e eticamente correto. Você não merece entrar em um novo ano com uma doença sem tratamento por medo do julgamento alheio. Cuidar da obesidade é cuidar da saúde, da longevidade e da qualidade de vida.
E isso basta.
Feliz Natal e excelente 2026 ! E se quiser mais dicas de festividades, entra no meu canal do YouTube, no podcast do spotify e no meu canal do WhatsApp, aqui o que nao falta é conteúdo. Preparei um e-book de fim de ano e coloquei duas receitas de salada. Espero que gostem.
Para acessar: https://drive.google.com/drive/folders/1UK7epotSVwt78OraRp-SL4D3W2EL-TSA?usp=sharing
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica, clique aqui.
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