Muita gente sente dor de cabeça, inchaço, coceira, vermelhidão na pele ou desconforto intestinal depois de comer alimentos considerados saudáveis e logo culpa o glúten, a lactose ou “intestino irritável”. São relatos frequentes no consultório do Nutrólogo e do Nutricionista. Porém, em muitos casos, os exames vêm normais e as dietas de restrição clássicas não resolvem o problema, gerando frustração e sensação de que “é tudo psicológico”.
A intolerância à histamina entra exatamente nesse ponto cego: uma condição real, ainda ignorada pela maioria dos médicos, que pode explicar reações aparentemente aleatórias a frutas, vinhos, queijos, temperos, alimentos fermentados e até suplementos alimentares.
Embora pareça algo raro, a intolerância à histamina provavelmente é subdiagnosticada e frequentemente confundida com alergias, síndrome do intestino irritável, intolerância à lactose, intolerância à frutose ou mesmo crises de ansiedade.
Neste texto, vamos explicar de forma simples:
- O que é a histamina,
- Por que algumas pessoas passam a reagir a alimentos comuns,
- Quais são os principais sintomas,
- Como é feito o diagnóstico,
- Quais são as opções de tratamento, incluindo dieta pobre em histamina, uso de enzimas e ajustes na microbiota intestinal, sempre com foco em qualidade de vida e em escolhas personalizadas, não em mais uma dieta restritiva sem sentido.
O que é histamina e por que ela é tão importante
A histamina é uma molécula produzida naturalmente pelo nosso corpo a partir do aminoácido histidina; em termos técnicos, é uma amina biogênica que atua como mensageira química.
Ela participa de várias funções essenciais:
- Auda a contrair músculos lisos (como os do intestino e dos brônquios),
- Regula a produção de ácido no estômago,
- Influencia o sono e a vigília,
- Age como neurotransmissor no cérebro, participando de processos como atenção, alerta e ritmo sono-vigília.
Diversas células produzem e armazenam histamina: mastócitos e basófilos (ligados às reações alérgicas), plaquetas, neurônios e células do intestino.
Além da histamina fabricada pelo nosso organismo, também recebemos histamina de fora, por meio de alimentos e bebidas, principalmente aqueles fermentados, curados, envelhecidos ou mal armazenados.
Em condições normais, existe um equilíbrio entre o quanto de histamina é produzida/ingerida e o quanto é rapidamente degradada por enzimas específicas; quando esse equilíbrio se perde e a histamina se acumula, surgem sintomas que podem afetar vários órgãos ao mesmo tempo.
Alergia, intoxicação e intolerância à histamina: não é tudo a mesma coisa
É fundamental diferenciar três situações que costumam ser misturadas no dia a dia:
- Alergia,
- Intoxicação,
- Intolerância à histamina.
Já a alergia alimentar clássica envolve o sistema imunológico, com anticorpos IgE, ativação de mastócitos e liberação de histamina e outras substâncias, podendo levar até a anafilaxia, um quadro grave que exige atendimento imediato.
A intolerância à histamina, por sua vez, não é uma alergia nem uma intoxicação aguda, mas sim um desequilíbrio crônico entre a quantidade de histamina que entra no corpo e a capacidade de degradá-la.
Mesmo alimentos com níveis considerados “normais” de histamina podem provocar sintomas em pessoas com baixa atividade das enzimas que a quebram, principalmente a DAO.
Os exames de alergia por IgE vêm negativos, não há marcadores típicos de reação alérgica, mas o paciente segue com sintomas recorrentes. É como se o organismo tivesse um “balde” de histamina com pouca capacidade de esvaziar e qualquer pequena exposição extra fosse suficiente para transbordar.
DAO: a enzima-chave na intolerância à histamina
A principal enzima responsável por degradar a histamina que circula fora das células, especialmente no intestino, é a diamino-oxidase, conhecida pela sigla DAO. Ela fica concentrada nas vilosidades intestinais, principalmente do intestino delgado, e atua como uma espécie de “porteiro bioquímico”, quebrando a histamina antes que ela vá em excesso para a corrente sanguínea.
Quando a atividade da DAO está reduzida, a histamina dos alimentos atravessa a barreira intestinal praticamente sem filtro, aumentando os níveis circulantes e favorecendo o aparecimento de sintomas em vários órgãos.
Além da DAO, existe outra enzima, a HNMT (histamina-N-metiltransferase), que atua principalmente dentro das células, em tecidos como o cérebro e o fígado. Na prática clínica, porém, a deficiência funcional da DAO intestinal parece ser a principal responsável pela intolerância à histamina.
Essa deficiência pode ser genética, estar ligada a doenças inflamatórias ou degenerativas do intestino, alterações da microbiota, uso de certos medicamentos ou mesmo a uma combinação desses fatores ao longo da vida. Entender essa peça é fundamental para compreender por que não se trata apenas de “sensibilidade a um alimento”, mas de uma falha no sistema de processamento da histamina.
Fármacos, álcool e outros inimigos silenciosos da DAO
Um ponto frequentemente ignorado é o impacto de medicamentos e do álcool sobre a atividade da DAO. Estima-se que uma parcela importante da população use regularmente fármacos que inibem a DAO, como alguns antibióticos que contêm ácido clavulânico, anti-inflamatórios como o diclofenaco e medicamentos usados para náuseas, como a metoclopramida.
Esses remédios não contêm histamina, mas reduzem a capacidade do organismo de degradá-la, criando uma espécie de “intolerância à histamina induzida por medicamentos” enquanto durarem seus efeitos.
O álcool também é um vilão duplo: além de poder conter histamina (como no caso de vinhos e cervejas), ele facilita a absorção intestinal da substância e pode inibir a DAO. Não é incomum os pacientes relatarem que pioraram muito com vinho tinto acompanhado de queijos, embutidos ou frutos do mar e concluirem que “o problema é o vinho”, quando na verdade ocorreu a combinação de vários fatores: alimentos ricos em histamina, outras aminas biogênicas e álcool, todos somando na mesma direção.
Entender esse efeito sinérgico ajuda a explicar por que, em alguns dias, a reação é tão intensa e, em outros, quase imperceptível, mesmo com alimentos parecidos.
Alimentos ricos em histamina e outras aminas biogênicas
Existem várias aminas biogênicas encontradas em alimentos e bebida: histamina, a tiramina, a putrescina e a cadaverina são algumas delas. Ou seja, além da histamina produzida pelo nosso corpo, podemos ter ainda a Histamina presente em alguns alimentos e elas são produzidas por fermentação de bactérias/fungos.
O acúmulo desses compostos nos alimentos é resultado da transformação de aminoácidos por microrganismos e depende de vários fatores, como a disponibilidade dos aminoácidos precursores e condições ambientais favoráveis ao crescimento e/ou à atividade da descarboxilase bacteriana.
Portanto, o processo de fabricação, a limpeza dos materiais, a composição microbiana e a fermentação influenciam a quantidade de histamina presente no alimento ou bebida. Dentre os alimentos que apresentam quantidade significativa de histamina temos os abaixo. Porém, cada paciente reage de uma maneira e não é a todos os alimentos que os pacientes reagem.
Vegetais:
Espinafre
Tomate (e molho de tomate ou ketchup)
Berinjela
Leguminosas:
Lentilhas
Grão de bico
Feijões
Soja
Oleaginosas e sementes:
Castanha de caju
Nozes
Amendoim
Avelã
Amêndoas
Pinhão
Semente de girassol
Gergelim
Leite e derivados:
Queijos curados e semi- curados
Queijos ralados
Queijo azuis
Queijos processados
Queijos mofados
Kefir de leite
Iogurte
Frutas:
Morango
Ameixa
Banana
Figo
Kiwi
Melancia
Goiaba
Manga
Mamão
Abacate
Framboesa
Frutas cítricas: Laranjas, limões, tangerina
Frutas secas
Doces e adoçantes:
Cacau
Adoçantes artificiais: Sucralose
Alcaçuz
Extrato de malte
Temperos e especiarias:
Temperos artificiais
Cominho
Curry
Mostarda
Ketchup
Maionese
Páprica picante
Pimentas
Picles
Conservas
Alcaparras
Vinagre de vinho tinto e
branco
Vinagre balsâmico
Gengibre
Canela
Farinhas e grãos:
Gérmen de trigo
Trigo sarraceno
Malte
Centeio
Cevada
Fermentados:
Chucrute
Molho de soja (Shoyu)
kefir
Kombuchá
Iogurte
Leite fermentado
Carnes:
Carnes processadas
Linguiça
Salsicha
Salame
Presunto
Mortadela
Bacon
Carne de porco
Cavala
Atum
Anchova
Peixes enlatados
Bacalhau
Frutos do mar
Clara de ovo crua
Carne seca (charque ou paçoca)
Vísceras
Carnes e peixes defumados
Carnes que ficam muito tempo exposto ao ar na bancada dos restaurantes
Bebidas:
Leite de soja
Leite de arroz
Café
Suco de laranja
Todas as bebidas alcóolicas: cerveja, vinho, gin, vodca
Bebidas energéticas
Chá preto
Chá verde
Chá mate
Outros:
Alga e derivados de alga
Cogumelos
Levedura nutricional
Azeitonas
Picles
Vinagre
Azeite Balsâmico
Alimentos em conserva
Enlatados
Aditivos alimentares
A União Europeia estabelece limites de histamina em produtos do mar exatamente por causa do risco de intoxicação, mas, na prática clínica, muitos pacientes apresentam sintomas mesmo com níveis abaixo desses limites regulamentares, especialmente quando há deficiência de DAO. Isso mostra que não basta olhar apenas “quanto de histamina o alimento tem”, mas também como está a capacidade do organismo de metabolizá-la.
Fonte: Nutricionista Juliana Carneiro @julianacarneiro.nutri
O mito da lista única de alimentos proibidos na intolerância à histamina
Muitas pessoas chegam ao consultório com listas de alimentos “proibidos na intolerância à histamina” encontradas na internet e se sentem confusas porque as recomendações se contradizem.
De fato, revisões científicas que compararam diferentes dietas pobres em histamina mostraram uma grande heterogeneidade: praticamente só há consenso em evitar alimentos fermentados e muito maturados, enquanto vários outros itens aparecem como proibidos em algumas listas e liberados em outras. Isso acontece porque muitos protocolos foram baseados em relatos de sintomas, e não em medições diretas de histamina ou no entendimento dos mecanismos bioquímicos envolvidos.
Um exemplo interessante são frutas como banana, laranja e outras cítricas, que muitas vezes nem têm tanta histamina, mas contêm outra amina chamada putrescina. Essa substância compete com a histamina pela mesma enzima, a DAO, funcionando como uma “falsa chave” que ocupa a fechadura e atrapalha a degradação da histamina verdadeira.
O resultado é que a histamina da refeição consegue escapar e chegar à circulação em maior quantidade, mesmo que o alimento em si não seja “rico em histamina”.
Outro grupo é o dos alimentos chamados de “liberadores de histamina”, como morango, chocolate, abacaxi e ovo; a ideia é que eles estimulam a liberação de histamina já armazenada no corpo, embora as evidências em humanos ainda sejam limitadas. Apesar disso, muitos pacientes relatam piora com esses alimentos, e isso precisa ser levado em conta de maneira individual.
Microbiota intestinal, disbiose e histamina
Nos últimos anos, estudos sobre microbiota intestinal mostraram que certas bactérias são capazes de produzir histamina dentro do intestino, a partir de aminoácidos da dieta. Em pessoas com intolerância à histamina, é comum encontrar um quadro de disbiose, ou seja, um desequilíbrio entre bactérias benéficas e potencialmente prejudiciais.
Em um estudo, por exemplo, indivíduos com intolerância à histamina apresentaram menor quantidade de bactérias associadas à saúde intestinal, como Prevotellaceae, Ruminococcus e Faecalibacterium prausnitzii, e maior presença de bactérias histaminogênicas, como Staphylococcus, Proteus, algumas Enterobacteriaceae, Clostridium perfringens e Enterococcus faecalis.
Essa combinação de baixa degradação de histamina (por deficiência de DAO) com alta produção local por bactérias histaminogênicas cria um cenário perfeito para o acúmulo da substância e o aparecimento de sintomas após refeições consideradas “normais”.
Ainda não temos protocolos padronizados de tratamento baseados em microbiota para intolerância à histamina, mas fica cada vez mais claro que cuidar da saúde intestinal, com dieta adequada, manejo de inflamação, uso criterioso de antibióticos e escolha cuidadosa de probióticos, isso faz parte da nossa abordagem. Vale lembrar que nem todo probiótico é inofensivo nesse contexto; alguns podem conter cepas que produzem histamina e pioram o quadro em vez de ajudar.
Sintomas de intolerância à histamina: não é só “dor de barriga”
Os receptores de histamina estão espalhados por praticamente todo o corpo, o que explica por que os sintomas da intolerância à histamina podem ser tão variados e confusos.
No aparelho digestivo, os relatos mais comuns são:
- Distensão abdominal (estufamento),
- Sensação de plenitude após pequenas quantidades de comida,
- Náuseas,
- Diarreia,
- Dor abdominal e, em muitos casos, alternância com constipação.
Em alguns estudos, a distensão abdominal apareceu em mais de 90% dos pacientes, mostrando como esse sintoma é central no quadro.
Além dos sintomas digestivos, são frequentes sinais em outros sistemas.
Naa pele:
- Vermelhidão,
- Coceira,
- Urticária,
- Inchaço em lábios, pálpebras ou face.
No sistema cardiovascular:
- Palpitações,
- Taquicardia,
- Queda de pressão,
- Sensação de desmaio iminente
- Dores de cabeça,
- Enxaquecas,
- Sensação de “névoa mental”.
- Congestão nasal,
- Coriza,
- Espirros,
- Piora de sintomas tipo asma.
Em mulheres:
- Cólicas menstruais intensas e flutuações importantes de sintomas ao longo do ciclo.
FODMAPs, lactose, frutose e intolerância à histamina: quadros que se sobrepõem
Como muitos sintomas digestivos da intolerância à histamina, como distensão, gases, dor abdominal, diarreia e constipação, se parecem muito com os da síndrome do intestino irritável e da sensibilidade a FODMAPs, é comum o paciente ser orientado a seguir uma dieta low FODMAP ou a cortar lactose e frutose.
Em alguns casos, há melhora parcial; em outros, praticamente nenhuma mudança, mesmo com boa adesão à dieta. Isso não significa que a estratégia esteja “errada”, mas que talvez não seja a principal peça do quebra-cabeça. A intolerância à histamina pode coexistir com outras intolerâncias e síndromes funcionais, aumentando a complexidade do quadro.
O papel do Nutrólogo e do Nutricionista, nesses casos, é organizar a investigação: ouvir a história em detalhes, mapear gatilhos alimentares, revisar exames já feitos, excluir alergias imediatas mediadas por IgE, descartar doenças intestinais orgânicas e, quando indicado, testar uma dieta com baixo teor de histamina por algumas semanas, sempre com registro cuidadoso dos sintomas.
Em vez de colecionar dietas restritivas, o objetivo é descobrir qual combinação de fatores realmente faz diferença para aquela pessoa específica, reduzindo o risco de deficiências nutricionais e preservando o máximo possível de variedade alimentar.
Intolerância à histamina, Ehlers-Danlos, disautonomia e ativação mastocitária
Outro ponto relevante é que a intolerância à histamina pode aparecer junto de outras condições, especialmente em pessoas com síndromes do tecido conjuntivo, como a síndrome de Ehlers-Danlos (SED), em que há hipermobilidade articular, maior fragilidade de ligamentos e, muitas vezes, queixas de dor crônica. Em alguns pacientes com SED, observam-se também disautonomia, POTS (taquicardia postural), ativação mastocitária e sintomas compatíveis com intolerância à histamina, formando um “pacote” complexo em que o corpo parece reagir de forma exagerada a diversos estímulos físicos e químicos.
Relatos clínicos sugerem que hormônios como a testosterona podem modular a intensidade desses quadros, fazendo com que alguns homens apresentem sintomas mais leves de fadiga e disautonomia, mas maior tendência à ativação mastocitária e intolerância histaminérgica.
Isso reforça a ideia de que a intolerância à histamina não é apenas “questão de dieta”, mas um fenômeno sistêmico em que genética, hormônios, microbiota, sistema imune e ambiente interagem. Cada paciente traz uma combinação única desses fatores, e a abordagem precisa ser igualmente individualizada, com estratégias que vão muito além de uma simples lista de “pode” e “não pode”.
Como é feito o diagnóstico de intolerância à histamina
Apesar de conhecermos cada vez melhor a fisiologia da histamina, ainda não existe um exame único considerado “padrão-ouro” para diagnosticar intolerância à histamina.
O processo começa sempre pela anamnese detalhada: é importante que a pessoa apresente pelo menos dois sintomas compatíveis, associados a alimentos ou situações que possam aumentar a carga de histamina.
Em seguida, o médico precisa excluir alergias alimentares clássicas, através de testes cutâneos e, quando necessário, exames laboratoriais, além de investigar doenças intestinais inflamatórias, celíaca, mastocitose sistêmica e outras condições que também cursam com aumento de histamina sanguínea.
A revisão de medicamentos é etapa obrigatória, já que muitas drogas usadas para dor, infecção, enjoo ou estômago podem inibir a DAO e simular ou agravar a intolerância à histamina.
Em alguns centros, é possível dosar a atividade da DAO no sangue (como no exame DAOPlus), identificar polimorfismos genéticos relacionados à enzima ou medir metabólitos da própria histamina; porém, esses testes ainda não são perfeitos, podem variar entre laboratórios e não substituem a avaliação clínica.
Na prática, o diagnóstico costuma ser confirmado pela combinação de história sugestiva, exclusão de outras causas e melhora dos sintomas após um período de dieta pobre em histamina, planejada e supervisionada.
Dieta pobre em histamina: como, quando e por quanto tempo?
A dieta com baixo teor de histamina é, hoje, a base do manejo da intolerância à histamina, mas precisa ser usada de forma estratégica, e não como condenação perpétua. Em geral, recomenda-se um período inicial de 4 a 8 semanas com redução importante de fontes clássicas de histamina e de outras aminas biogênicas, além de evitar álcool e medicamentos que inibam a DAO.
Durante esse tempo, o paciente registra cuidadosamente o que comeu e quais sintomas surgiram, permitindo identificar padrões pessoais e perceber se há melhora global.
Após a fase de controle, começa-se uma reintrodução gradual de alimentos, testando grupos em momentos diferentes e em pequenas quantidades, sempre monitorando sinais e sintomas. O objetivo é chegar ao “nível de tolerância” individual, em que a pessoa consegue variar a alimentação sem crises frequentes, aceitando que talvez alguns gatilhos precisem ser evitados de forma mais permanente.
Dietas genéricas e extremamente restritivas, mantidas por longos períodos, aumentam o risco de carências nutricionais, perda de prazer com a comida e impacto na vida social; por isso, a orientação profissional é tão importante nessa etapa.
Fonte: Nutricionista Juliana Carneiro @julianacarneiro.nutri
DAO, anti-histamínicos e outras ferramentas do tratamento
Além da dieta, existem outras ferramentas que podem auxiliar no manejo da intolerância à histamina. Em situações de crise, alguns medicamentos anti-histamínicos podem ser utilizados para aliviar sintomas cutâneos, respiratórios ou digestivos, sempre sob orientação médica, especialmente em pessoas que já tiveram reações mais intensas.
Outra estratégia é o uso de suplementos de DAO de origem externa, tomados junto às refeições; a ideia é aumentar temporariamente a capacidade de degradar a histamina alimentar, permitindo maior flexibilidade na dieta em algumas situações.
É importante entender, porém, que suplementos de DAO não substituem a investigação das causas de fundo, como disbiose, inflamação intestinal ou uso de medicamentos inibidores da enzima.
Em muitos casos, o plano ideal envolve tratar o intestino, ajustar o estilo de vida, revisar remédios em uso, orientar o paladar a novas combinações de alimentos e, se necessário, usar enzimas e fármacos de forma pontual e estratégica. Assim, a pessoa deixa de sentir que “qualquer coisa faz mal” e volta a ter maior previsibilidade sobre o próprio corpo, reduzindo o medo de comer.
Importante frisar, que não serão todos os pacientes que responderão à DAO. Isso merece esse adendo, já que é uma enzima com alto custo e muitas vezes o paciente deposita toda confiança nas cápsulas com DAO e depois se frustra.
Suplementos que ajudam e suplementos que atrapalham na intolerância à histamina
Alguns nutrientes e compostos bioativos parecem ajudar a modular a resposta à histamina. A quercetina e a luteolina, por exemplo, são flavonoides presentes em alimentos como cebola, maçã, uvas, azeite e ervas, e estudos in vitro sugerem que possam ter efeito anti-inflamatório leve, ação anti-histamínica e capacidade de estabilizar mastócitos.
A vitamina C é frequentemente citada por sua possível relação com a atividade da DAO, e manter bons níveis circulantes pode colaborar para uma melhor degradação de histamina.
Já a vitamina B6 e o cobre atuam como cofatores da DAO, de modo que carências desses nutrientes podem piorar o quadro, justificando avaliação e correção quando necessário.
Por outro lado, alguns suplementos podem ser verdadeiras “armadilhas” para quem tem intolerância à histamina:
- Extratos de leveduras,
- Colágenos,
- Caldos de ossos,
- Certas proteínas em pó,
- Suplementos fermentados,
- Produtos com base alcoólica,
- Spirulina,
- Vitamina B3 na forma de ácido nicotínico podem aumentar a carga de histamina ou facilitar sua ação no organismo, desencadeando sintomas importantes.
- Conservantes como benzoatos, sulfitos, sorbatos e o próprio glutamato também podem agir como gatilhos em pessoas sensíveis.
Probióticos ricos em Histamina ou produtores de Histamina
É muito comum pacientes portadores de intolerância alimentar chegarem ao consultório utilizando pool de probióticos e principalmente quando existe SIBO, isso exacerba os sintomas. Porém, o que muita gente não sabe, incluindo médicos, é que algums cepas são arriscadas para pacientes com intolerância à Histamina.
Importante frisar que a maioria dos estudos que evidenciam essa produção de histamina a essas cepas, são in vitro. Além disso quantidade de histamina produzida in vitro ou em alimentos não é igual ao que acontece no lúmen intestinal, onde há competição, substrato limitado, pH diferente etc.
Cepas com evidência clara de produção de histamina: Essas têm dados genéticos (hdcA/hdcP/hdcB) e/ou ensaios mostrando produção de histamina:
- Lactobacillus reuteri ATCC PTA 6475: O reuteri possui cluster completo de histidine-decarboxilase (hdcA, hdcB, hdcP) e converte histidina em histamina. A histamina produzida por essa cepa tem efeito anti-inflamatório em cólon via receptor H2 (H2R), reduzindo TNF em modelos de colite, ou seja, é histaminogênica, mas pode ser clinicamente benéfica em Doenças inflamatórias intestinais (DII). Importante salientar que esses estudos são in vitro.
- Lactobacillus rhamnosus GG (LGG): Há estudo metabolômico mostrando que o LGG secreta histamina, usada por lactobacilos para ativar H2R e modular TNF-α e IL-1β.
- Streptococcus thermophilus – cepas específicas (ex.: CHCC1524, CHCC6483, PRI60): O S. thermophilus é usado como “isca” em iogurtes, coalhadas e alguns probióticos multi-cepas.
- Lactobacillus casei – algumas cepas. Estudo de tecnologia de alimentos mostrou L. casei produzindo altas quantidades de histamina, além de tiramina. L. casei / paracasei é muito usado em probióticos e bebidas fermentadas, então a atividade histaminogênica é claramente cepa-dependente.
- Lactobacillus helveticus – cepas usadas em laticínios/probióticos. Revisões de biogênese de aminas listam L. helveticus entre as espécies responsáveis por acúmulo de aminas (incluindo histamina) em queijos. Estudos em queijo Cheddar sugerem que a presença de certas cepas de L. helveticus está associada a aumento de histamina, a ponto de se usar Lactococcus lactis para inibir LH-32 e reduzir histamina.
Espécies frequentemente citadas como “probióticos de alto histamina”: vários materiais na internter recomendam cautela com algumas cepas usadas em probióticos, baseados em dados de alimentos e extrapolação: Lactobacillus helveticus, Streptococcus thermophilus, Lactobacillus casei, Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus (L. bulgaricus), Bacillus licheniformis
Preferir, em tese, combinações com Bifidobacterium (longum, breve, infantis, etc.), que até o momento são vistos como neutros/possivelmente degradadores de histamina, embora a evidência ainda seja mais in vitro/indireta que clínica.
Então a nossa dica fical é: Automedicação e uso indiscriminado de suplementos vendidos como naturais” podem ser perigosos nesse contexto; o ideal é que Nutrólogo e Nutricionista avaliem caso a caso, montando um plano que considere não só a intolerância à histamina, mas toda a saúde global do paciente.
Investigação de Intolerância à Histamina é trabalho duplo detetive, com poucos exames laboratoriais a serem solicitados (apesar de propagarem exames sem validação científica), nossa propedêutica ainda é pobre.
Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui.
Dra. Christian Kelly Nunes Ponzo - CRM-ES 9683, RQE de Gastroenterologista: 6354, RQE de Nutrologia: 6355
Dra. Theresa Leo - Médica Nutróloga, Ginecologista e Obstetra - CRM-ES 8903 RQE 15007
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui.
Dra. Christian Kelly Nunes Ponzo - CRM-ES 9683, RQE de Gastroenterologista: 6354, RQE de Nutrologia: 6355
Dra. Theresa Leo - Médica Nutróloga, Ginecologista e Obstetra - CRM-ES 8903 RQE 15007
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física
Bibliografia
1) Sánchez-Pérez, S.; Comas-Basté, O.; Duelo, A.; Veciana-Nogués, M.T.; Berlanga, M.; Latorre-Moratalla, M.L.; Vidal-Carou, M.C. Intestinal Dysbiosis in Patients with Histamine Intolerance. Nutrients 2022, 14, 1774. https://doi.org/10.3390/nu14091774
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3) Comas-Basté O, Sánchez-Pérez S, Veciana-Nogués MT, Latorre-Moratalla M, Vidal-Carou MDC. Histamine Intolerance: The Current State of the Art. Biomolecules. 2020;10(8):1181. Published 2020 Aug 14;10(8):1181. doi: 10.3390/biom10081181.
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6) https://pebmed.com.br/intolerancia-a-histamina-fique-atento-a-esta-condicao-patologica/#
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