Se você está pensando em adotar ou comprar um pet, aqui vai uma boa notícia: além de afeto e companhia, cães e gatos podem funcionar como um “treino” diário para o seu cérebro. Podem ajudar a manter a sua memória ativa, melhorar a atenção e evitar rebaixamento do humor ao longo dos anos. Isso provavelmente terá impacto real na sua autonomia e qualidade de vida, especialmente após os 50 anos, quando a reserva cognitiva começa a ser testada pelo tempo.
Vozes da cabeça de um nutrólogo? Não, isso é o que alguns estudos tem mostrado nas últimas décadas.
Antes uma observação clínica, principalmente de neurologistas e psiquiatras, o efeito booster cerebral de pets tem ganhado estudos. Cnfirmando o que a medicina e psicologia já percebiam: ter pets podem ajudar na saúde mental e na preservação de funções cerebrais.
E qual a importância disso? Em um país como o nosso, no qual a população está envelhecendo, pode ser que um pet possa fazer toda a diferença na saúde cerebral.
Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Genebra, publicada na revista Scientific Reports, revelou que possuir cães ou gatos está associado a um declínio cognitivo mais lento em adultos com 50 anos ou mais.
O estudo, que usou dados de 18 anos do Survey of Health and Retirement in Europe (SHARE), analisou como a posse de animais de estimação, como cães, gatos, pássaros e peixes, afetava a função cognitiva de mais de 16.000 participantes. Os resultados mostraram que o benefício varia dependendo do tipo de animal.
O que o estudo evidenciou?
Esse trabalho analisou 18 anos de dados de adultos com mais de 50 anos, em diversos países europeus e observaram que tutores de cães e gatos apresentaram declínio cognitivo mais lento do que pessoas sem pets.
E qual o nível de evidência desse estudo? Consiste em um achado robusto por se tratar de um acompanhamento longitudinal de grande porte, com medidas repetidas ao longo do tempo, o que aumenta a confiança nos resultados.
Benefícios específicos por espécie: memória com cães, fluência com gatos
O estudo mostrou diferenças interessantes: donos de cães preservaram melhor a memória imediata e tardia, enquanto tutores de gatos tiveram declínio mais lento na fluência verbal e também em memória tardia, sugerindo que cada espécie estimula circuitos ligeiramente distintos, algo coerente com a rotina de cada animal e as formas de engajamento que eles exigem do tutor no dia a dia.
Para maior benefício, eu, Frederico Lobo recomendo adoção de 2 gatos e 1 cachorro rs. Afinal 1 gato somente fica triste. Experiência própria.
Por que não vale “qualquer” pet para o cérebro
Curiosamente, a mesma associação protetora não aconteceru quando os tutores possuiam pássaros e peixes. Motivo? Provavelmente por vínculos emocionais menos intensos, menor demanda de interação diária e até potenciais distúrbios do sono relacionados a ruídos noturnos, fatores que podem sabotar o ganho cognitivo.
No dia-a-dia cães e gatos solicitam da nossa parte uma participação ativa, e provavelmente é justamente essa participação/interação que treina o cérebro e favorece essa preservação das funções cerebrais.
O cérebro em ação: como o contato com animais ativa o pré-frontal
Estudos com técnicas de neuroimagem funcional mostram que interagir com um cão aumenta a ativação do córtex pré-frontal, área ligada à atenção, tomada de decisão e regulação emocional, quando comparado a estímulos não vivos; essa “liga” cerebral pode explicar o foco maior, a presença no aqui-agora e o alívio do estresse reportados após sessões de interação.
Gatos também “acendem” o cérebro, do jeito felino
Pesquisas com interações com gatos encontraram aumento de atividade no pré-frontal independentemente do tipo de interação (brincar, alimentar, treinar ou acariciar).
Isso corra talvez porque o temperamento imprevisível dos felinos exija mais leitura de sinais, controle de impulsos e adaptação cognitiva por parte do tutor, o que também funciona como exercício mental cotidiano.
Menos solidão, mais propósito: o eixo emocional que protege a mente
A tutoria responsável de um pet amplia a rede de apoio, reduz sentimentos de isolamento e injeta propósito diário.
Isso são fatores psicossociais associados a menor risco de depressão e de piora cognitiva; na prática, passeios, brincadeiras e rotinas de cuidado criam micro-metas que somam estímulo e estrutura à vida, elementos valiosos para o envelhecimento saudável. Confirmando o que já percebemos na prática clínica.
Movimento conta (e muito): passos, parques e vascularização cerebral
Cães, em especial, aumentam passos diários e tempo ao ar livre, o que melhora condicionamento e saúde vascular.
E tem até revisão sistemática e meta-análises sobre isso, ou seja, mostrando associação entre saúde cardiovascular e tutoria de cães.
A que foi publicada na revista Circulation, evidenciou menor mortalidade por todas as causas, possivelmente por um conjunto de hábitos fisicamente mais ativos, algo que também protege o cérebro através de melhor perfusão e menor inflamação sistêmica. A conclusão do estudo: Ter um cão está associado a um menor risco de morte a longo prazo, possivelmente devido à redução da mortalidade cardiovascular.
Sono melhor, cérebro mais afiado: o papel da rotina com pets
Rotinas consistentes de alimentação, passeios e descanso ajudam a sincronizar o relógio biológico do tutor; sono de qualidade, por sua vez, está ligado a declínio cognitivo mais lento ao longo da vida adulta. Ou seja, vale organizar horários, adotar métodos higiene do sono também em função do pet, evitando estímulos noturnos e reforçando o ciclo claro-escuro.
Já escrevi aqui no blog sobre Rotina: https://www.ecologiamedica.net/2023/10/a-importancia-da-rotina.html
E também sobre métodos de higiente do sono: https://www.ecologiamedica.net/2012/02/metodos-de-higiene-do-sono-o-que.html
Atenção plena na prática: menos celular, mais vínculo
Brincar, treinar comandos simples, escovar dentes e pêlo, observar sinais do pet desloca foco do multitarefa digital para interações táteis e visuais ricas, um “antídoto” contra o excesso de telas. Essa atenção focada reduz estresse, melhora humor e fortalece a conexão tutor-animal, retroalimentando benefícios cognitivos de forma natural, prazerosa e sustentável.
Na prática percebemos até redução do food noise em alguns pacientes portadores de obesidade.
Como escolher entre cão e gato pensando no cérebro
Pessoas mais ativas e sociáveis tendem a se beneficiar do “combo” cão + passeios + encontros em parques. Já pessoas com rotina doméstica mais estável e silenciosa podem preferir gatos, cujo engajamento mental aparece forte em tarefas curtas e frequentes.
O segredo é alinhar espécie, temperamento e estilo de vida para garantir vínculo de qualidade e constância nos estímulos.
Antes de levar um pet para casa, avalie tempo, custos, espaço, alergias e apoio familiar.
Optar por adoção responsável salva vidas. Eu auxilio um grupo que resgata gatos, chamado MiauMe. As responsáveis fornecem todas as orientações para uma adoção bem sucedida.
É importante frisar que filhotes exigem treinamento e paciência, enquanto adultos podem oferecer temperamento mais previsível, reduzindo frustrações e fortalecendo o vínculo desde cedo.
O instagram delas é: https://www.instagram.com/_miaume/ e elas atuam em Goiânia.
Montando o “kit saúde cerebral” do seu pet
Vacinação e vermifugação em dia, controle de pulgas e carrapatos, check-ups veterinários, enriquecimento ambiental e socialização estruturada são não negociáveis; brinquedos de desafio, circuitos de arranhadores (gatos) e treinos curtos de obediência (cães) funcionam como “quebra-cabeças” para o animal e para você, ativando memória de trabalho, planejamento e paciência.
Treino que treina você: comandos como ginástica mental
Sentar, ficar, vir ao chamado, buscar, soltar: cada comando envolve leitura de sinais, reforço positivo, timing e consistência, um verdadeiro laboratório de funções executivas para tutor e pet; sessões de 5–10 minutos, 1–2 vezes ao dia, criam um micro-hábito estimulante que soma treino cognitivo, vínculo afetivo e bem-estar para ambos.
Gatos e a arte do enriquecimento silencioso
Brinquedos que simulam caça, prateleiras elevadas, esconderijos e comedouros lentos respeitam o etograma felino e estimulam resolução de problemas; a interação “menos óbvia” com gatos exige atenção, leitura corporal e criatividade, um terreno fértil para o cérebro, especialmente para quem trabalha em casa e precisa de pausas ativas e curtas ao longo do dia.
Atenção às exceções: quando o pet pode atrapalhar
Se o animal interrompe o sono com frequência, se há alergias respiratórias importantes (como foi meu caso) ou se a rotina gera sobrecarga emocional, o benefício cognitivo pode diminuir.
Nesses casos, ajuste manejo, busque orientação veterinária, considere barreiras simples (portas, rotinas pré-sono) e, se necessário, procure apoio psicológico para reestruturar expectativas e responsabilidades. Isso infelizmente é mais comum do que se pensa. Portanto, adoção é coisa séria.
Envelhecendo juntos: adaptações para pets sêniores e tutores maduros
Pets idosos precisam de rampas, tapetes antiderrapantes, comedouros elevados e consultas mais frequentes.
Tutores mais velhos podem preferir raças de menor porte ou gatos, reduzir a intensidade de passeios e focar em brincadeiras de nariz e cérebro, que cansam sem sobrecarregar articulações, mantendo o pacote de estímulos cognitivos de forma segura e gentil.
Gatos facilmente passam dos 15 anos. Tenham isso em mente.
Custos e planejamento: cérebro anota, bolso agradece
Inclua no seu orçamento PLANO DE SAÚDE, ração de qualidade, consultas periódicas ao veterinário, seguro/contingência, banho e tosa quando necessário e itens de enriquecimento.
Panejar reduz estresse financeiro, aumenta previsibilidade e evita decisões impulsivas, preservando o aspecto prazeroso da tutoria, que é justamente o que mais alimenta os benefícios para mente e coração.
Checklist para decidir com segurança
Reflita sobre tempo disponível, nível de atividade, preferências por contato físico, tolerância a ruídos e viagens, além de alergias em casa.
Visite abrigos ou criadores responsáveis, converse com veterinários e adestradores, e, se possível, faça uma “experiência assistida” com um pet de amigos ou família para sentir se a rotina combina com seus objetivos e limitações.
Meu convite: adote com consciência e colha benefícios por muitos anos
Cães e gatos oferecem uma combinação rara de estímulo cognitivo, vínculo emocional e movimento, reconhecida por evidências científicas que apontam redução de declínio cognitivo e maior engajamento cerebral em tarefas do dia a dia.
Se a decisão fizer sentido para sua realidade, dê o próximo passo com responsabilidade e suporte profissional, e prepare-se para um envelhecimento mais ativo, conectado e feliz.
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui.

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