quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O que é ser médico ? Por Dr. Flávio Moutinho

O que é ser MÉDICO?
Não é uma pergunta retórica nem filosófica. É uma pergunta prática que define uma profissão. Não é "médico é um ser abençoado", ou "médico é um bicho-papão, mau feito picapau". A pergunta é: o que faz do médico - e que não faz de outro profissional - um médico?

Gostaria de abrir essa pergunta para vocês. Médicos, outros profissionais da área da saúde, população geral. Todos os comentários serão permitidos (menos os agressivos, óbvio).

Eu sempre pensei (antes até de fazer Medicina) que fosse prerrogativa do médico, e só dele, fazer o diagnóstico nosológico (antes até de saber o que isso quer dizer). O diagnóstico da doença de base. E prescrever a melhor forma de tratamento. Com auxílio terapêutico de todos os outros profissionais de saúde atuando em suas respectivas áreas.

Digo diagnóstico NOSOLÓGICO porque "diagnóstico", tout-court, todo mundo faz.
O mecânico faz anamnese - o que aconteceu com o carro? desde quando ele está fazendo esse barulho? bateu em algum buraco? você estava a que velocidade quando isso aconteceu?; faz exame físico - abre o capô, checa o nível de óleo, vê se alguma peça está quebrada; faz um diagnóstico - quebrou a rebimboca da parafuseta; traça um plano terapêutico - vai ter trocar isso, isso e aquilo; e faz um prognóstico - se eu fosse você, trocava de carro, que vai quebrar de novo daqui a no máximo 5000km.
O economista, o dentista, o sociólogo, o fonoaudiólogo, o meteorologista, o dentista, o historiador, o fisioterapeuta analisam uma situação presente, preveem uma situação futura e traçam planos para evitar as adversidades.
Tanto quanto o diagnóstico de cada profissão específica cabe a ela própria, o diagnóstico médico cabe ao médico.

Não se nega à enfermeira o diagnóstico em Enfermagem. Seria proibi-la de analisar uma situação própria à Enfermagem e tirar conclusões sobre a conduta. Seria proibi-la de pensar. Idem para qualquer outro profissional de qualquer área, da saúde ou não.

Ao médico cabe o diagnóstico nosológico porque a formação médica lhe dá acesso a fazer diagnósticos diferenciais com doenças de outras áreas.
Se uma fonoaudióloga identifica uma disartria e inicia o tratamento fonoaudiológico, ela pode suspeitar que se trate de um AVC; mas quem deve fazer o diagnóstico do AVC e dizer se o tratamento é cirúrgico ou clínico com tal ou qual medicação é o médico. O que de modo nenhum tira a necessidade de se melhorar a disfunção da fala com o acompanhamento fonoaudiológico.
Se um psicólogo identifica um quadro depressivo, ele pode suspeitar de que se trate de um transtorno de humor. Mas quem deve fazer o diagnóstico de se é isso de fato ou, por exemplo, um câncer de pâncreas, que também cursa com quadro depressivo, é o médico.

Nos dois casos, e em tantos outros, o acompanhamento terapêutico é importante, mas fixar-se nele é correr o risco de perder diagnósticos fundamentais, e, por consequência, o tempo de tratamento.

Por Dr. Flávio Moutinho - Médico, especialista em endocrinologia e endocrinopediatria . Professor de fisiologia endócrina da UERJ. Preceptor na residência de endocrinologia da UERJ e residência de Endocrinopediatria da UERJ.

0 comentários:

Postar um comentário

Propagandas (de qualquer tipo de produto) e mensagens ofensivas não serão aceitas pela moderação do blog.