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quarta-feira, 4 de maio de 2022

Jejum intermitente funciona?


Um estudo publicado há 2 semanas em um dos períodos médicos mais importantes do mundo (The New England Journal of Medicine) comparou  a perda de peso e redução de circunferência abdominal em adultos obesos por 12 meses.

No estudo, um grupo  foi submetido ao jejum intermitente (Time-Restricted Eating) com restrição de calorias e já o outro grupo, não seguiu o jejum intermitente e fez a restrição calórica.

Os pesquisadores selecionaram aleatoriamente 139 pacientes com obesidade (IMC>30) para alimentação com restrição de tempo (comer apenas entre 8h e 16h) com restrição calórica ou restrição calórica diária sozinha. 

Durante 12 meses, todos os participantes foram instruídos a seguir uma dieta com restrição calórica que consistia de 1.500 a 1.800 kcal por dia para homens e 1.200 a 1.500 kcal por dia para mulheres. 

O desfecho primário foi a diferença entre os dois grupos na mudança do peso corporal. Já os desfechos secundários incluíram mudanças na circunferência abdominal, índice de massa corporal (IMC), quantidade de gordura corporal e medidas de fatores de risco metabólicos.

Resultados

Do total de 139 participantes submetidos à randomização, 118 (84,9%) completaram a visita de acompanhamento de 12 meses.

A perda de peso média da linha de base em 12 meses foi de -8,0 kg (intervalo de confiança de 95% [IC], -9,6 a -6,4) no grupo de restrição de tempo e -6,3 kg (IC 95%, -7,8 a -4,7) no grupo de restrição calórica diária.

As mudanças no peso não foram significativamente diferentes nos dois grupos na avaliação de 12 meses. Os resultados das análises das circunferências da cintura, IMC, gordura corporal, massa magra corporal, pressão arterial e fatores de risco metabólicos foram consistentes com os resultados do desfecho primário.

Além disso, não houve diferenças substanciais entre os grupos no número de eventos adversos.

Conclusão

A conclusão foi que o grupo submetido ao jejum intermitente com restrição calórica e o grupo apenas com restrição calórica, sem o jejum intermitente, tiveram resultados semelhantes no que diz respeito à perda de peso e à redução da circunferência abdominal. 

O que corrobora com outros estudos feitos na mesma linha de pesquisa. O importante para a perda de peso é o déficit calórico total do dia, e não o jejum intermitente em si.

Minha opinião: à luz das evidências científicas ATUAIS não há superioridade. 

Na prática: Se o paciente se sente bem, gosta de fazer jejum, pode fazer, desde que redistribua os macronutrientes (proteína principalmente) ao longo do dia. Faça sob supervisão médica, quantificando se está ocorrendo algum déficit de nutriente e perda de massa muscular.

Acho que fui um dos primeiros perfis médicos a falar de Jejum intermitente em 2014, quando o tema ainda não tinha sido notado por médicos brasileiros. Em um primeiro momento muitos nutrólogos recriminaram esse tipo de prática, posteriormente o pessoal da endocrinologia começou a pesquisar e viram que alguns artigos mostravam benefícios. Hoje já se encontram evidências que não há superioridade. A ciência funciona assim. 

Então as mensagens que ficam são:
1) O que importa é o déficit calórico
2) Jejum não é para todos, há pessoas que sentirão mal-estar, desencadearão enxaqueca, piora de transtornos alimentares (compulsão)
3) Pacientes diabéticos em uso de hipoglicemiantes ou insulina jamais devem fazer jejum sem supervisão médica, pois, há um grande risco de hipoglicemia
4) Atletas amadores ou indivíduos que treinam cardio podem apresentar redução da performance, náuseas, vertigem quando treinarem em Jejum
5) Há risco de déficit de proteína se elas não forem redistribuídas na janela de ingestão (período em que pode comer).
6) Há risco de baixa ingestão de fibras e déficit de alguns nutrientes: ou seja, tem que fazer sob supervisão médica. 
7) Se você se sente bem, percebe melhora na cognição, na disposição (mesmo não existindo evidência científica disso), converse com o seu médico/nutricionista sobre. 
 
Fonte: Liu D, Huang Y, Huang C, Yang S, Wei X, Zhang P, Guo D, Lin J, Xu B, Li C, He H, He J, Liu S, Shi L, Xue Y, Zhang H. Calorie Restriction with or without Time-Restricted Eating in Weight Loss. N Engl J Med. 2022 Apr 21;386(16):1495-1504. doi: 10.1056/NEJMoa2114833. PMID: 35443107.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Revisores: 
Dra. Edite Magalhães - Médica especialista em Clínica Médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351
Dr. Leandro Houat - CRM-SC 27920 - RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de família e comunidade

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Parecer técnico da ASBRAN sobre o Jejum Intermitente

Na semana passada a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) emitiu um parecer técnico sobre Jejum Intermitente (JI), visto que é uma estratégia que está na moda e ainda não há nada 100% conclusivo sobre ela. 

Em 2015 escrevi um mega texto aqui sobre o tema, com o auxílio de uma amiga Nutricionista (Samara Bergameli) e já naquela época, deixávamos claro que o JI não é para todos os pacientes e muito menos a estratégia salvadora nos casos de emagrecimento.

Discordo em alguns pontos do parecer, mas no geral ele deixa claro o que há de científico até o momento sobre o Jejum. 

Resumindo:
  1. O JI é uma estratégia assim como a restrição calórica contínua (RCC). Há superioridade dele, quando comparado à restrição calórica contínua? Não. Tem pessoas que tem melhores resultados com JI do que com RCC? Sim. 
  2. Estudos em longo prazo não mostram a segurança do JI. Porém, já sabemos que há populações no mundo que simplesmente pulam algumas refeições, exemplo: pulam café da manhã e não há efeitos deletérios até o momento. 
  3. Nosso corpo está adaptado para ficar algumas horas sem se alimentar. Fazemos isso quando dormimos: Jejum de 8 horas. Pq então um jejum de 16 horas seria prejudicial? Poderia ser prejudicial de acordo com o quadro do paciente. Já vi pacientes agravarem quadros psiquiátricos com Jejum. Pacientes desencadearem enxaqueca por jejum. Diabéticos tipo 1 fazerem hipoglicemia em decorrência de Jejum. Ou seja, a estratégia existe, mas mais importante que isso, existe o paciente e suas individualidades. 

PARECER TÉCNICO No. 01/2019
ASSUNTO: JEJUM INTERMITENTE

O jejum intermitente (JI) compreende um padrão alimentar no qual o indivíduo se submete de forma voluntária a períodos de privação de alimentos, com reduzida ou nenhuma ingestão energética, intercalados por períodos de ingestão normal de alimentos e bebidas, a depender do protocolo, podendo ocorrer restrição em dias alternados, jejum de dia inteiro e jejum de tempo limitado. 
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Os efeitos benéficos comumente atribuídos ao JI envolvem a perda de peso, alterações no metabolismo energético, na composição corporal, melhora na microbiota intestinal, glicemia e marcadores de risco cardiometabólico e efeitos relacionados ao retardo no envelhecimento. O jejum intermitente ganhou popularidade ao longo da última década, apesar da prática ser mundialmente realizada desde a antiguidade, especialmente por grupos religiosos, dentre estes os budistas, cristãos, muçulmanos e hindus e, mais recentemente, sua utilização vem sendo disseminada na prática dos nutricionistas.
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Devido a sua grande repercussão, o grupo de pareceristas da Associação Brasileira de Nutrição - ASBRAN emitiu um parecer técnico sobre o assunto.

CONSIDERANDO:

1. As investigações sobre a perda de peso entre indivíduos obesos e com sobrepeso sugerem perdas de peso e de massa magra equivalentes entre JI e restrição energética contínua (REC).

2. Os protocolos sugeridos de restrição alimentar podem favorecer comportamentos de compulsão
alimentar em dias de consumo alimentar. 

3. A hipótese mais aceita cientificamente quanto à gênese da obesidade e demais doenças crônicas não transmissíveis está fortemente associada à falta de estilo de vida saudável (alimentação inadequada e sedentarismo) e não necessariamente ao fracionamento ou intervalos menores ou maiores de alimentação. 

4. O que determina de forma plausível, entre outras consequências, o desequilíbrio na oferta de nutrientes e ingestão de calorias são as mudanças envolvendo a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para consumo, com alta densidade calórica, de acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira. Ainda, tais alterações nos hábitos alimentares são observadas com grande intensidade no Brasil. Esses fatores são preponderantes para o ganho de peso ou sua manutenção, e não a ingestão calórica diária ou seu fracionamento.

5. Os ensaios publicados nas demais situações como diabetes, câncer, nas doenças cardiovasculares, entre outras, até o presente, não são suficientes para confirmar as hipóteses de reversão ou atenuação desses eventos, uma vez que não há estudos controlados acerca dessas observações. Os estudos experimentais que mostram possíveis benefícios para tais doenças não fornecem ainda segurança em seu uso.

6. As recomendações usuais de fracionamento do número de refeições com intervalos de 2 a 3 horas promovem maior oferta e biodisponibilidade dos nutrientes, manutenção de níveis sanguíneos constantes de compostos bioativos, redução de episódios compulsivos, redução do nível de cortisol sanguíneo, aumento das concentrações de hormônios intestinais envolvidos na saciedade e menores níveis plasmáticos de insulina e glicose. Portanto, não há subsídios científicos suficientes para que não seja seguido um padrão alimentar baseado em alimentação diária, com refeições fracionadas em 5 ou 6 porções ao longo do dia.

7. Não se tem evidências científicas suficientes provenientes de estudos controlados envolvendo humanos para suportar os benefícios supracitados do JI. 

8. As condutas relacionadas a esta prática têm sido baseadas em estudos realizados com animais e a partir de dados observacionais do jejum religioso (particularmente Ramadã). As diversas religiões que adotam sua prática realizam isso de forma esporádica e sem alteração do padrão alimentar por longo tempo. Além disso, a cultura alimentar religiosa de cada população não tem permitido, por enquanto, a padronização de estudos para que sejam adotados como bem controlados;

9. Os resultados obtidos são advindos de estudos experimentais com amostra reduzida, o que não é suficiente para sustentar com segurança essa prática em seres humanos
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PARECER:

São necessários ensaios clínicos controlados randomizados, especialmente de longo prazo e envolvendo humanos, sob JI versus dietas convencionais de restrição calórica contínua (RCC) que permitam comprovar a eficácia dos efeitos na saúde atribuídos ao JI, bem como as demais repercussões à saúde, sobretudo seus potenciais efeitos adversos. Esses ensaios devem possuir protocolos consensualmente definidos para suportar a adoção do JI como alternativa terapêutica para as diversas situações. 

Portanto, as alegações para sua utilização ainda são insuficientes para sua recomendação.

Destaca-se que uma alimentação adequada e saudável, baseada nos princípios e recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, orientada por um nutricionista habilitado(a), principalmente quando associada à prática de exercícios físicos e bons hábitos de vida, é capaz de contribuir para a promoção, prevenção, manutenção e recuperação da saúde dos indivíduos e da população. 

Por fim, ressalta-se que é dever do nutricionista analisar criticamente questões técnico científicas e metodológicas de práticas, pesquisas e protocolos divulgados na literatura ou adotados por instituições e serviços, bem como a própria conduta profissional e que, ao realizar a prescrição dietética, o(a) profissional deve: I. considerar o cliente-paciente globalmente, respeitando suas condições clínicas, individuais, socioeconômicas, culturais e religiosas; II. Considerar diagnósticos, laudos e pareceres dos demais membros da equipe multiprofissional, definindo com estes, sempre que pertinente, os procedimentos complementares à prescrição dietética; III. respeitar os princípios da bioética.

BIBLIOGRAFIAS

1. Johnstone A. Fasting for weight loss: na effective strategy or latest trend ? Int J Obes (Lond). 2015. May;39(5):273-33.
2. Longo VD, Mattson MP. Fasting: Molecular Mechanisms and Clinical Applications. Cell Metab. 2014;19(2): 181–92.
3. St-Onge MP, Ard CJ, Baskin ML, Chiuve SE, Johnson HM, Kris-Etherton P, et al. Meal Timing and Frequency: Implications for Cardiovascular Disease Prevention. A Scientific Statement From the American Heart Association. Aha Scientific Statement. 2017;135:e96–121
4. Horne BD, Muhlestein JB, May HT, Carlquist JF, Lappé DL, Bair TL, et al. Intermountain Heart Collaborative Study Group. Relation of routine, periodic fasting to risk of diabetes mellitus, and coronary artery disease in patients undergoing coronary angiography. Am J Cardiol. 2012;109:1558–62.
5. Patterson RE, Laughlin GA, LaCroix AC, Hartman SJ, Natarajan L, Senger CM, et al. Intermittent Fasting and Human Metabolic Health. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. 2015;115(8):1203-12.
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7. Collier R. Intermitent fasting: the Science of going without. CMJA: Canadian Medical Association Journal, 2013 Jun 11: 185(9):E363-E364.
8. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica Diretrizes brasileiras de obesidade 2016 / ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. – 4.ed. - São Paulo, SP
9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição Guia Alimentar para a População Brasileira, promovendo a alimentação saudável. Brasília (DF); 2014.
10. Louzada MLDC, Ricardo CZ, Steele EM, Levy RB, Cannon G, Monteiro CA. The share of ultra processed foods determines the overall nutritional quality of diets in Brazil. Public Health Nutr. 2018 Jan;21(1):94- 102.
11. Juul F, Martinez-Steele E, Parekh N, Monteiro CA, Chang VW. Ultra-processed food consumption and excess weight among US adults. Br J Nutr. 2018 Jul;120(1):90-100.
12. Barbosa JHP, Ferreira RC, Tenório MB. Jejum intermitente como estratégia para controle de peso e promoção da saúde. In: Associação Brasileira de Nutrição; Hordonho AAC, Coppini LZ, Fidelix MSP, organizadoras. PRONUTRI Programa de Atualização em Nutrição Clínica: Ciclo 6. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2018. p. 123-50. (Sistema de Educação Continuada à Distância)
13. Solomon, T.P.; Chambers, E.S.; Jeukendrup, A.E.; et al. The effect of feeding frequency on insulin and ghrelin responses in human subjects. Br J Nutr; 100: 810–819, 2008.
14. Capasso, R.; Izzo, A.A. Gastrointestinal regulation of food intake: general aspects and focus on
anandamide and oleoylethanolamide. J Neuroendocrinol; 20(Suppl 1): 39–46, 2008.
Brasília-DF, 05 de Fevereiro de 2019. 

Link para o parecer: 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Jejum pode fazer bem à saúde

Sempre que se fala em jejum as pessoas pensam em religião, dieta ou manifestações políticas. Mas ficar sem comer pode trazer benefícios à saúde, em especial do coração, dizem pesquisadores do Centro Médico Intermountain, em Utah, Estados Unidos.


Segundo os especialistas, o jejum reduz os riscos de doença arterial coronariana (caracterizada pelo estreitamento dos vasos sanguíneos em decorrência do espessamento das artérias) e diabetes, além de fazer mudanças significativas no nível de colesterol sanguíneo.

O efeito que o jejum tem sobre a saúde já vem sendo estudado há anos, e pesquisas anteriores mostram que ele realmente tem efeito benéfico na redução no risco da doença cardíaca, que é a principal causa de morte entre homens e mulheres dos Estados Unidos.

A nova pesquisa registrou as reações biológicas do organismo durante o período de jejum. Os níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C, o "mau" colesterol) e de alta densidade (HDL-C, o "bom" colesterol) aumentaram significativamente: 14% e 6%, respectivamente. Isso elevou a taxa de colesterol total, o que pegou os pesquisadores de surpresa.

"O jejum provoca fome ou estresse. Em resposta, o organismo libera mais colesterol, permitindo utilizar a gordura como fonte de combustível em vez de glicose. Isso diminui o número de células de gordura no corpo", explica Benjamin Horne, diretor de Epidemiologia e Genética Cardiovascular na Faculdade de Medicina Intermountain e principal autor da pesquisa.

"Isso é importante porque quanto menos células de gordura no organismo, menor a probabilidade de resistência à insulina, ou diabetes", completa. Os resultados da pesquisa foram apresentados em 03 de abril, nas sessões científicas anuais do Colégio Americano de Cardiologia, em Nova Orleans.

Fonte: http://www.hebron.com.br/