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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Ingestão de café e o risco de hipertensão em adultos: revisão sistemática e metanálise

A hipertensão está diretamente associada ao risco de doenças cardiovasculares. O número de pessoas com idade entre 30 e 79 anos com hipertensão aumentou de 648 milhões em 1990 para mais de 1,2 bilhão de pessoas em 2019, tornando-se um sério problema de saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda. Além disso, evidências sugerem que dietas de alta qualidade são responsáveis por um declínio de 22% no risco de doença cardiovascular, enquanto o consumo de carnes vermelhas e processadas, alta ingestão de sódio, baixa ingestão de potássio, obesidade, consumo de álcool, assim como as bebidas adoçadas com açúcar estão associadas a um aumento no risco de hipertensão.

O café é uma bebida consumida diariamente por grande parte da população mundial. Portanto, os efeitos da cafeína presente no café têm sido estudados nas últimas décadas por meio de diversos estudos observacionais e ensaios clínicos. A cafeína pode estimular a produção de adrenalina, que por sua vez tem diversos efeitos no sistema cardiovascular, como aumento da pressão arterial, disfunção endotelial, inflamação e diminuição da sensibilidade à insulina, que podem estar associados ao risco de doenças cardiovasculares.

Revisões anteriores indicaram que em pessoas saudáveis, o consumo habitual de café não está associado a um risco aumentado de hipertensão, especialmente quando a quantidade de café consumida era maior que 3 xícaras por dia em comparação com 1 xícara por dia. Revisões de estudos de coorte prospectivos demonstraram que o consumo de 1 a 3 xícaras de café por dia pode aumentar o risco de hipertensão. No entanto, os resultados desses estudos são controversos, devido a variações nos tipos de café e sua composição, estilo de vida e duração do estudo.

Atualmente, não há evidências científicas suficientes para confirmar que o consumo de café pode atuar no controle da hipertensão, especialmente em diferentes populações de diferentes regiões do mundo, como América, Europa e Ásia.

OBJETIVOS DO ESTUDO

Dadas essas divergências na literatura existente, esta é uma revisão sistemática atualizada e metanálise que incluiu novos estudos publicados sobre a relação entre café e risco de hipertensão com o objetivo de resumir as evidências atuais e explorar as fontes potenciais de heterogeneidade.

MÉTODOS

PubMed/Medline e Web of Science foram pesquisados para estudos observacionais até fevereiro de 2023. Estudos observacionais que avaliaram o risco de hipertensão na categoria mais alta de consumo de café em comparação com a ingestão mais baixa foram incluídos na meta-análise atual (registro número: CRD42022371494). O efeito combinado do café na hipertensão foi avaliado usando um modelo de efeitos aleatórios.

RESULTADOS

Vinte e cinco estudos, ou seja, treze estudos transversais e doze coortes foram identificados como elegíveis. A combinação de 13 estudos de coorte mostrou que um maior consumo de café estava associado a uma redução de 7% no risco de hipertensão (95% CI: 0,88, 0,97; I2: 22,3%), enquanto a combinação de 16 estudos transversais ilustrados maior redução do risco de hipertensão (RR = 0,79, IC 95%: 0,72, 0,87; I2 = 63,2%). Esses resultados variaram de acordo com as características dos estudos, como a região do estudo, o sexo dos participantes, a qualidade do estudo e o tamanho da amostra.

CONCLUSÕES

Uma associação inversa foi encontrada entre o consumo de café e o risco de hipertensão em estudos transversais e de coorte. No entanto, essa associação foi dependente das características dos estudos. Novos estudos considerando tais fatores são necessários para confirmar os resultados deste estudo.

domingo, 26 de abril de 2020

Dia de combate à Hipertensão arterial: Como a Nutrologia pode te ajudar?


Hoje foi comemorado o dia de Combate à Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e a Nutrologia tem um papel essencial na prevenção e tratamento. Segundo a OMS, a HAS é o principal fator de risco de doenças cardiovasculares. Por ser uma doença silenciosa, grande parte dos pacientes não sabe que possuem. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão, uma em cada 4 pessoas adultas tem HAS. Assim, estima-se que a doença atinja, no mínimo, 25% da população brasileira adulta, chegando a mais de 50% após os 60 anos. Ela é a responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.

As graves consequências da HAS podem ser evitadas, desde que os hipertensos conheçam sua condição e mantenham-se em tratamento com adequado controle da pressão. Dicas para prevenir a HAS:
1) Afira a pressão pelo menos duas vezes ao ano
2) Pratique atividades físicas regularmente.
3) Mantenha o peso ideal.
4) Adote dieta DASH caso tenha história familiar de HAS.
5) Evite álcool.
6) Não fume.
7) Evite o estresse.
8) Nutroterapia: Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) é um padrão alimentar que incentiva o consumo de certos alimentos e exerce um importante impacto na redução da pressão arterial. Ajuda a controlar o colesterol e sua grande vantagem é que não exclui nenhum grupo alimentar. Estudos mostram que a adesão a esse estilo alimentar reduz em 14% o desenvolvimento de hipertensão, funcionando positivamente na prevenção de doença cardiovascular. A dieta DASH é rica em fibras e nos minerais potássio, cálcio e magnésio, e esses micronutrientes trazem benefícios sobre a pressão arterial. Orientações da DASH:

1 - Escolher alimentos que possuam pouca gordura saturada, colesterol e gordura total. Por exemplo, carne magra, aves e peixes, utilizando-os em pequena quantidade.

2 – Comer frutas e hortaliças, aproximadamente de oito a dez porções por dia (uma porção é igual a uma concha média).

3- Incluir duas ou três porções de laticínios desnatados ou semidesnatados por dia.

4 – Preferir os alimentos integrais, como pães, cereais e massas integrais ou de trigo integral.

5 – Comer oleaginosas (castanhas), sementes e grãos, de quatro a cinco porções por semana (uma porção é igual a ⅓ de xícara ou 40 gramas de castanhas, duas colheres de sopa ou 14 gramas de sementes, ou ½ xícara de feijões ou ervilhas cozidas e secas).

6 – Reduzir as gorduras saturadas . Utilizar óleos vegetais insaturados (como azeite, soja, milho).

7 – Evitar o sal. Evitar também molhos e caldos prontos, além de produtos industrializados.

8 – Diminuir ou evitar o consumo de doces e bebidas com açúcar.

Fonte: www.nhlbi.nih.gov/health/public/heart/hbp/dash/new_dash.pdf

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Ingestão de sal pode causar comprometimento cerebral independente de hipertensão

Aumento do sal, diminuição da função cognitiva

A grande ingestão de sal pode ter uma repercussão surpreendente na memória e no funcionamento cognitivo, independentemente do seu efeito sobre a pressão arterial, de acordo com um estudo com modelo animal publicado no periódico Nature Neuroscience.[1]

Depois de apenas algumas semanas, ratos alimentados com uma dieta rica em sódio apresentaram redução importante do fluxo sanguíneo para regiões do cérebro associadas ao aprendizado e à memória. Os ratos tiveram dificuldade de construir um ninho e lutaram para encontrar o caminho para sair de labirintos, visto que essa diminuição do fluxo sanguíneo parece comprometer tanto a cognição quanto a memória espacial.

Os pesquisadores – uma equipe da Weill Cornell Medicine, de Nova York – alimentaram os ratos com o equivalente a cerca de 6.000 mg de sal por dia com uma dieta humana. Em comparação, os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA recomendam que os norte-americanos limitem a ingestão de sal a cerca de 2.300 mg por dia, como parte de um plano de alimentação saudável.[2] De acordo com a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, a maioria de nós come quase 50% mais do que isso.

Embora a hipertensão, associada à ingestão elevada de sal, possa levar ao aumento do risco de acidente vascular cerebral e a demência[3], o primeiro autor, Dr. Costantino Iadecola, médico e diretor do Feil Family Brain and Mind Research Institute e Anne Parrish Titzell Professor of Neurology na Weill Cornell Medicine, não acredita que isto seja o que causou o declínio cognitivo observado no estudo.

“Essa foi a surpresa”, disse o pesquisador. “Verificamos que alimentar os ratos com uma dieta com alto teor de sal (8 a 16 vezes a dieta normal), o que corresponde aos mais altos níveis de consumo de sal nos seres humanos, é o que resulta na disfunção cognitiva. Os efeitos nocivos do sal sobre o cérebro são independentes do aumento da pressão arterial. Portanto, é a alta ingestão de sal na alimentação por si só que prejudica a função cerebral”.

O Dr. Iadecola acrescentou que há evidências na literatura corroborando a ideia de que estes resultados também se aplicam aos seres humanos.[4]

“Estudos epidemiológicos citados no nosso artigo demonstraram uma ligação significativa entre a ingestão de excesso de sal na alimentação e a doença cerebrovascular, o declínio cognitivo e a demência”, disse o pesquisador.

Resposta imunitária e o eixo intestino-cérebro

Os pesquisadores descobriram que os ratos que ingerem uma dieta rica em sal montaram uma resposta imunitária intestinal que aumentou os níveis de leucócitos. Isto teve um impacto negativo em outras células imunitárias, ao mesmo tempo aumentando a proteína interleucina-17 (IL-17), que diminui os níveis de uma substância fundamental para a saúde circulatória, o óxido nítrico.[4]

“Este efeito decorre do acúmulo no intestino de uma classe especial de linfócitos denominada células TH17, que produzem grandes quantidades de IL-17”, disse o Dr. Iadecola.

“A IL-17 entra na circulação sanguínea e compromete as células endoteliais no cérebro, que revestem os vasos sanguíneos cerebrais, e suprime a produção de óxido nítrico. A perda do óxido nítrico diminui a oferta de sangue para o cérebro e causa lesão neuronal, o que levará ao comprometimento cognitivo”.

O autor acrescentou que as bactérias do intestino também podem desempenhar um papel nesta reação imunitária mediada pelo sal, porque um estudo humano anterior havia observado o efeito direto delas sobre os linfócitos no intestino.[5]

Segundo o Dr. Iadecola, a conexão intestino-cérebro também pode ser prejudicada por outros fatores, como a gordura saturada, o açúcar e os adoçantes artificiais.

“Essa é uma possibilidade, mas ainda precisa ser determinado se esses fatores alimentares são prejudiciais ao serem absorvidos no intestino, entrarem na circulação e agirem diretamente nos vasos sanguíneos do cérebro, ou por induzirem uma resposta imunitária que resulta em efeitos nocivos, como descobrimos que é definitivamente o caso do sal na alimentação”, explicou.

Inibidor reverte o efeito

Para determinar que foram os altos níveis de IL-17 induzidos pelo sal, e não a hipertensão, que causaram o declínio cognitivo, Dr. Iadecola e colaboradores administraram para os ratos que comiam a dieta com alto teor de sal uma substância denominada inibidor Y27632 ROCK. Esta substância diminuiu os níveis da IL-17, o que fez com que os ratos voltassem a apresentar comportamento e cognição quase normais.

Por mais que isto possa ser promissor, existe uma diferença importante entre administrar essa substância para ratos ou para os seres humanos, de acordo com o Dr. Iadecola.

“Não sabemos se os danos nos seres humanos que têm consumido grande quantidade de sal na alimentação durante toda a vida são irreversíveis, comparado a apenas algumas semanas dos ratos”.

Sal a menos também poderia ser um problema
De acordo com o Dr. Michael Harrington, diretor de neurociência na Huntington Medical Research Institutes, em Pasadena, Califórnia, "o grupo de estudos Nowak[6] ] com humanos idosos foi feito com dosagens do sódio sérico e, embora os resultados sejam distorcidos em relação ao que seria a distribuição normal da população, eles mostram que níveis muito baixos ou muito altos de sódio no sangue não são bons para a função cognitiva e também se correlacionam à piora da função cognitiva”.

Entretanto, o Dr. Harrington ficou fascinado com as conclusões do estudo. “O grupo de ratos do Dr. Iadecola tem essa intrigante conexão intestino-cérebro, na qual o aumento do sal alimentar no intestino causa lesões aos capilares cerebrais por mediação imunológica, resultando em deterioração cognitiva. É incrivelmente interessante como a fisiologia mecanicista ficando um pouco fora de controle pode causar danos cerebrais”.

Isso reforça o arcabouço de pesquisas mostrando que a alimentação é um fator poderoso que influencia a saúde cognitiva. “Sabemos que uma dieta saudável é essencial para alguém com demência conseguir manter uma boa qualidade de vida e também evitar a perda de peso corporal, um efeito colateral comum do tratamento da demência, bem como das doenças neurológicas subjacentes”, disse Deborah R. Gustafson, PhD, professora do Departamento de Neurologia da State University of New York.

Deborah acredita que moderar a ingestão de sal é aconselhável, nem que seja apenas para prevenir o declínio cognitivo relacionado com a hipertensão. “Como a ingestão elevada de sal na alimentação está associada à hipertensão, pelo menos entre as pessoas sensíveis ao sal, então a maior ingestão de sal poderia estar associada a problemas cognitivos. Os dados observacionais são muito sistemáticos para a associação entre o risco de hipertensão na meia-idade com a demência”.

De acordo com um artigo de 2010 no American Journal of Hypertension[7], as lesões da substância cerebral causadas pela hipertensão de longa data estão associadas ao comprometimento cognitivo.

Dr. Iadecola conclui que, embora o papel pleno do sal na doença de Alzheimer e no declínio cognitivo esteja apenas começando a ser descoberto, “doenças específicas à parte, acredito que moderar a ingestão de sal é uma prática necessária para manter o cérebro saudável e evitar doenças cerebrais, especialmente nas populações em risco, como as pessoas com fatores de risco cardiovascular (diabetes, hipertensão, etc.), esclerose múltipla e doença inflamatória intestinal”.