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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Desmistificando o paladar infantil

 

Salgadinho, balas, pirulitos, hambúrguer, cachorro-quente, leite com achocolatado, brigadeiro… quando se fala nesse tipo de alimentação, muita gente costuma associá-la como comida de criança. Mas na realidade, esse conceito precisa ser repensado. Afinal, as preferências de sabores na infância são diferentes do que na vida adulta, e elas podem sim, optar por alimentos mais saudáveis no dia a dia.

A seguir, vou desmistificar algumas crenças sobre  o que é considerado comida de criança e como encontrar um equilíbrio entre as guloseimas e os ingredientes mais saudáveis:

Como funciona o paladar infantil?

O sentido do paladar se desenvolve por meio das papilas gustativas, que são órgãos sensoriais localizados na língua e que permitem a experimentação dos sabores. Estima-se que uma pessoa tenha, em média, aproximadamente 10.000 papilas gustativas, que são substituídas a cada duas semanas.

Essas papilas são desenvolvidas ainda na nona semana de gestação, juntamente da boca e da língua. Por isso, o líquido amniótico acaba sendo o primeiro gosto sentido pelo feto. Com isso, se a mãe consome alimentos mais doces, salgados e picantes, o bebê pode acabar tendo a mesma sensação desde aquele instante.

Depois do parto, as papilas ficam mais expostas e, consequentemente, sensíveis ao ambiente ao redor. Elas passam a sentir sabores como azedo e amargo, ainda que aversas a eles, e possuem uma preferência pelo doce e pelo umami, que é considerado o quinto gosto.

Estas preferências podem refletir em um impulso biológico para os alimentos que contenham maior densidade calórica e que possuam um alto teor de proteínas, essenciais para o adequado crescimento e desenvolvimento dos bebês.

Foi a partir desse fato que surgiu a crença comum de que existe algo chamado “paladar infantil”. É a ideia de que as crianças só gostam de certos tipos de alimentos, geralmente os doces e os pouco nutritivos, enquanto rejeitam os alimentos saudáveis e mais complexos. No entanto, essa percepção limitada do paladar infantil precisa ser derrubada.

Podemos entender o paladar infantil como uma tela em branco, pronta para ser pintada com uma variedade de sabores e texturas. Em vez de aceitar a ideia de que as crianças só gostam de determinados alimentos, devemos entender que o paladar infantil é, na verdade, um espectro amplo de gostos que se desenvolve conforme a exposição da criança a diversos alimentos.

Então o que deveria ser comida de criança?

As crianças são naturalmente curiosas e abertas a novas experiências. Quando expostas a uma variedade de alimentos desde cedo, elas têm a oportunidade de explorar diferentes sabores, aromas e texturas.

Introduzir uma gama diversificada de alimentos na alimentação das crianças não apenas amplia suas preferências, mas também nutre seus corpos em crescimento com os nutrientes essenciais de que precisam. Ao oferecer frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e laticínios, estamos proporcionando uma base saudável para o desenvolvimento do paladar da criança.

Enquanto a diversidade alimentar é fundamental, também é importante abordar o papel dos alimentos indulgentes na dieta das crianças. Doces, salgadinhos e outras guloseimas são parte integrante da cultura alimentar e podem oferecer prazer em ocasiões especiais.

No entanto, a chave está na moderação. Proibir completamente esses alimentos, pode criar uma mentalidade de privação, o que pode levar a comportamentos alimentares insalubres no futuro.

Como unir saúde, praticidade e o desejo das crianças na alimentação do dia-a-dia?

Quando pensamos em comida de criança, algumas coisas vêm à mente, como bisnaguinhas, nuggets, bolinhos, sucos de caixinha, etc. Para além da questão desses alimentos serem associados às crianças por conta do paladar infantil, que já desmistificamos, precisamos considerar a praticidade que esses alimentos, todos industrializados, proporcionam no dia-a-dia, principalmente pensando em lancheira.

Alimentos industrializados, não necessariamente são ruins. Eles são, sim, mais práticos e podem ser aliados das mães, desde que escolhidos corretamente.

Aqui vão alguns mitos e verdades para te ajudar na escolha desses alimentos:

1. É essencial ler os rótulos dos alimentos

Verdade. Ao escolher alimentos industrializados para crianças, é essencial ler os rótulos com cuidado. Evite produtos com uma longa lista de ingredientes desconhecidos ou aditivos artificiais. Opte por alimentos com ingredientes naturais e minimamente processados. Além disso, esteja atento ao teor de açúcar, sódio e gorduras saturadas.

2. Não há necessidade de evitar bebidas açucaradas

Mito. As bebidas açucaradas, incluindo refrigerantes e sucos industrializados, são frequentemente carregadas de açúcar. Opte por água, leite ou sucos naturais e sem adição de açúcar como alternativas mais saudáveis.

3. Para garantir mais nutrição, o ideal é oferecer lanches grandes

Mito. Ao procurar lanches embalados, escolha opções como pacotes pequenos de frutas secas, nozes ou biscoitos integrais. Estes oferecem nutrientes e são geralmente porções controladas, ajudando a evitar o excesso de consumo.

4. Uma boa educação alimentar deve ser participativa

Verdade. Incentivar as crianças a participar das escolhas alimentares pode ajudá-las a entender a importância de fazer escolhas saudáveis. Leve-as às compras e explique por que estão escolhendo determinados alimentos em vez de outros. Isso não apenas educa, mas também empodera as crianças a tomar decisões alimentares conscientes.

É fundamental entender que o paladar infantil é, na verdade, um mundo vasto de possibilidades. Ao encorajar as crianças a experimentar uma variedade de alimentos e ao mesmo tempo ensiná-las sobre moderação, estamos ajudando a cultivar hábitos alimentares saudáveis que durarão toda a vida.

Ao invés de restringir, devemos celebrar a diversidade do paladar infantil, proporcionando às crianças uma base sólida para uma vida inteira de escolhas alimentares conscientes e equilibradas.

Referências

Spill M. et al. What is the relationship between repeated exposure (timing, quantity, and frequency) to foods and early food acceptance? Repeated Exposure to Foods and Early Food Acceptance: A Systematic Review, 2019.

Healthy food for school-age children: the five food groups. Raising Children, 2021.

Taste Buds. Kids Health.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 156 p. : il.

Fonte: https://nutritotal.com.br/publico-geral/material/e-comida-de-crianca-conheca-os-mitos-e-verdades-sobre-alimentos-tipicamente-oferecidos-a-criancas/

terça-feira, 31 de março de 2015

A nutrição e sua importância nos primeiro 1.000 dias de vida da criança - Dra. Christiane Araujo Chaves Leite

Os primeiros 1.000 dias entre a gravidez e o segundo ano de vida oferecem uma janela de oportunidade única para proporcionar à criança um futuro mais saudável e próspero. O correto manejo nutricional durante os primeiros 1.000 dias pode ter um profundo impacto no crescimento e na aprendizagem, oferecendo também chances para melhora do padrão de vida social e para a construção de uma sociedade mais saudável, a longo prazo, e estável.

Ainda hoje a desnutrição lidera as causas de morte de crianças mais jovens em vários locais do mundo. Para lactentes e crianças abaixo de 2 anos, as consequências da desnutrição são particularmente graves, quase sempre irreversíveis, com repercussões na idade adulta.
Durante a gravidez, a desnutrição pode ter um péssimo impacto no crescimento saudável do feto e no desenvolvimento da criança. Bebês que se desnutrem durante a vida intrauterina têm um maior risco de morrer na infância e são mais propensos a enfrentar, ao longo da vida, déficits cognitivos e físicos e problemas crônicos de saúde.

Para crianças menores de 2 anos, a desnutrição pode ser devastadora, repercutindo sobre o sistema imunológico e susceptibilizando-as a morrer de doenças comuns como pneumonia, diarreia e malária.
Lactentes nascidos de baixo peso (BP) têm piores resultados quanto ao desenvolvimento neurológico (habilidades cognitivas, de memória, visuais e média de quociente de inteligência [QI]) quando comparados com aqueles nascidos com peso adequado para a idade gestacional. O período perinatal é de alta necessidade energética e de micronutrientes, e qualquer processo, como nascimento prematuro, nutrição inadequada ou insuficiência placentária, que interrompa o fluxo de nutrientes para o feto pode resultar em bebês com BP ao nascimento. Portanto, parece lógico que ao menos parte dos déficits cognitivos possa ser explicada por privação nutricional.

Os nutrientes comumente deficientes em lactentes de BP incluem proteína e energia e micronutrientes como ferro, zinco e ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LC-PUFAs).
Estratégias para melhorar o desenvolvimento neurológico de crianças nascidas de BP são importantes, e muitas intervenções tiveram foco na abordagem nutricional aplicada durante o período após o nascimento. O acúmulo expressivo, no cérebro, dos LC-PUFAs (ácido docosa-hexaenoico [DHA] e ácido araquidônico [ARA]) ocorre principalmente no último trimestre de gestação e nos primeiros meses de vida.

A maioria das fórmulas para prematuros tem sido suplementada com LC-PUFAs desde o princípio dos anos 2000. De maior relevância clínica há dois ensaios recentes com doses de DHA que refletem a taxa estimada de acúmulo na vida intrauterina. Esses ensaios também incluíram lactentes alimentados com leite materno. Ambos descreveram progressos no desenvolvimento neurológico.
Pelas revisões recentes da literatura e das recomendações de expertos acerca da adição de LC-PUFAs às fórmulas infantis, conclui-se que as evidências atuais respaldam a suplementação de DHA e ARA nessas fórmulas, em especial nas destinadas a prematuros.

Estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado e de intervenção (suplementação de leite humano com DHA e ARA), com seguimento até os 20 meses de idade, não resultou em diferença no índice de desenvolvimento mental de Bayley (MDI). No entanto, identificou melhora significante na atenção sustentada em atividades lúdicas livres.

Recém-nascidos de BP apresentam déficits cognitivos documentados em comparação com aqueles nascidos a termo e com peso normal ao nascimento. Poucos estudos demonstraram o impacto da privação nutricional nesse desfecho, muito provavelmente porque envolveram amostras pequenas ou apresentaram problemas metodológicos, limitando a possibilidade de extrair conclusões robustas. Estudos maiores e ensaios de intervenção mais bem desenhados, com seguimento a longo prazo do desenvolvimento neurológico e suas repercussões, são necessários para determinar a utilidade dos suplementos nutricionais e o tempo de sua administração a recém-nascidos de baixo peso.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/20624152/.

Artigo de referência: Attention among very low birth weight infants following early supplementation with docosahexaenoic and arachidonic acid. Westerberg AC, Schei R, Henriksen C, Smith L, Veierød MB, Drevon CA, Iversen PO. Acta Paediatr. 2011 Jan;100(1):47-52