Mostrando postagens com marcador DDT. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador DDT. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 18 de março de 2019

Mais evidências sobre toxinas ambientais e câncer de mama

Dois estudos trazem nova luz sobre o papel das toxinas ambientais e o risco de câncer de mama. Um estudo investigou os ftalatos, o outro examinou o diclorodifeniltricloroetano (DDT).

Os ftalatos são praticamente onipresentes, sendo encontrados em xampus, maquiagens, pisos de vinil, brinquedos, dispositivos médicos e no interior dos automóveis. Quase todo mundo nos Estados Unidos está exposto, principalmente por comer e beber alimentos e bebidas que entram em contato com os produtos que contêm essas substâncias químicas.

A exposição aos ftalatos tem sido implicada em uma série de doenças e quadros clínicos, inclusive a infertilidade masculina.

O novo estudo, descrito como o maior estudo sobre ftalatos e o câncer de mama após a menopausa, sugere que esses produtos químicos não têm nenhum efeito no risco de câncer de mama para as mulheres após a menopausa.

No entanto, seus resultados deixam em aberto a questão de uma possível relação entre a exposição ao ftalato e o câncer de mama antes da menopausa, de acordo com a primeira autora Dra. Katherine Reeves, Ph.D. da School of Public Health and Health Sciences na University of Massachusetts em Amherst.

"Não encontramos associação estatisticamente significativa entre a exposição aos ftalatos e o câncer de mama e, embora isto não exclua um efeito menor, acredito que descarte um efeito muito grande", disse a Dra. Katherine ao Medscape.

"Por exemplo, quando pensamos em tabagismo e câncer de pulmão, este realmente é um efeito forte, mas segundo nosso estudo é certamente improvável que a relação entre os ftalatos e o câncer de mama após a menopausa seja tão grande. No entanto, não podemos descartar um efeito menor no risco de câncer de mama", disse a pesquisadora.

Isso porque a exposição aos ftalatos muda todos os dias e essa substância é metabolizada muito rapidamente e excretada na urina em poucas horas, acrescentou a Dra. Katherine.

O estudo foi publicado on-line em 10 de dezembro no periódico Journal of the National Cancer Institute

Detalhes do estudo

No seu estudo de caso-controle aninhado, Dra. Katherine e equipe de pesquisa pegaram amostras congeladas de urina que tinham sido fornecidas há muitos anos por mulheres participando da Women's Health Initiative (WHI).

Os pesquisadores dosaram os níveis dos metabólitos do ftalato 13 e da creatinina na urina de 419 mulheres com diagnóstico de câncer de mama invasivo após o terceiro ano do Women's Health Initiative e na urina de 838 participantes saudáveis como grupo de controle. Foram avaliadas duas ou três amostras de urina de cada participante, obtidas no início do estudo, no 1º e no 3º ano do WHI.

A média de idade das pacientes e do grupo de controle foi de 62 anos. As pacientes do grupo de casos de câncer foram mais frequentemente obesas, fumantes atuais e menos ativas fisicamente do que as do grupo de controle.

"As mulheres tinham doado essas amostras em um momento no qual todas eram saudáveis. É importante reconhecer que os estudos anteriores foram retrospectivos, o que significa que dosaram a exposição aos ftalatos depois das mulheres terem o diagnóstico do câncer de mama. Esta não é a melhor estratégia para os ftalatos, porque a exposição aos ftalatos pode se dar por meio do equipamento médico e de medicamentos, então o que você está dosando pode refletir apenas o fato das pacientes terem sido diagnosticadas recentemente com câncer de mama e não algo que possa estar causando a doença", explicou a Dra. Katherine.

As concentrações dos biomarcadores de ftalato foram semelhantes entre as pacientes do grupo dos casos e as participantes do grupo de controle. Não houve associação entre esses biomarcadores e o aumento do risco de câncer de mama em geral, nem por subtipo da doença.

A razão de chances ajustada ou odds ratio (OR) para os diferentes biomarcadores de ftalato variou de 0,85 (intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,38 a 1,91) a 1,04 (IC 95%, de 0,92 a 1,17).

Resultados semelhantes foram encontrados em análises restritas aos subtipos da doença, a mulheres que não fizeram reposição hormonal após a menopausa, ao índice de massa corporal e aos casos diagnosticados em três, cinco ou 10 anos.

"Nossos resultados nulos persistiram, independentemente da técnica de análise utilizada e, por isso, concluímos que qualquer grande aumento do risco de câncer de mama associado a exposição aos ftalatos é improvável", disse a Dra. Katherine.

"Me parece que temos informações melhores do que a maioria dos estudos, porque nós fizemos duas ou três dosagens por participante. As dosagens que temos refletem uma exposição muito recente, de modo que estou bem confiante de que não existe um efeito muito grande dos ftalatos no câncer de mama após a menopausa, mas não podemos descartar um efeito menor. Também é importante reconhecer que só avaliamos as mulheres já depois da menopausa, de modo que os nossos resultados não se aplicam necessariamente às mulheres mais jovens", disse a pesquisadora.

"Além disso, dosamos a exposição aos ftalatos em um momento no qual as mulheres já haviam passado a menopausa, entre 50 e 79 anos de idade. Cada vez mais compreendemos que a principal janela do risco de câncer de mama pode ser muito preliminar, na adolescência ou antes da primeira gestação. Não conseguimos avaliar tudo isso neste estudo", disse a pesquisadora.

Continuando sua explanação, a Dra. Katherine disse que gostaria de estudar pacientes mais jovens para ver se a exposição precoce aos ftalatos influencia o risco de câncer de mama mais tardio.

"As dosagens de ftalato podem variar, portanto, se existir algum modo de obter mais dosagens urinárias durante um período, isso nos permitiria caracterizar melhor as mulheres mais expostas e as menos expostas, o que nos permitirá obter uma resposta melhor", disse a pesquisadora.

DDT onipresente e o câncer de mama

O segundo estudo investigou a exposição ao DDT, um inseticida orgânico que foi muito utilizado na agricultura. O DDT foi proibido nos Estados Unidos em 1972 e, posteriormente, foi proibido no mundo todo. No entanto, subsiste na cadeia alimentar e, por conseguinte, há populações continuamente expostas.

Este estudo, que também foi publicado no periódico Journal of the National Cancer Institute, verificou que a exposição ao DDT foi associada ao câncer de mama até os 54 anos de idade e que o risco dependia do momento da primeira exposição.

As mulheres expostas antes dos 14 anos de idade, sobretudo durante a primeira infância (do nascimento aos três anos de idade) e a infância, tiveram maior probabilidade de ter câncer de mama antes da menopausa. As que foram expostas após a infância tiveram maior risco de ter câncer mais tarde, entre 50 a 54 anos de idade.

"O momento da exposição é importante, e sabemos que, se as exposições nocivas ocorrerem quando o tecido mamário está mudando rapidamente, como durante a puberdade ou na primeira gestação, isso pode comprometer o desenvolvimento de mama de maneiras que podem resultar em câncer", disse ao Medscape a primeira autora, Dra. Barbara A. Cohn, Ph.D., do Public Health Institute's Child Health and Development Studies, em Berkeley, Califórnia.

"Nossos resultados sugerem que o DDT comprometa a mama com um efeito disruptivo endócrino, e que o tempo transcorrido entre a primeira exposição e o diagnóstico de câncer é de cerca de 40 anos", disse a Dra. Barbara.

Em um artigo publicado em 2007 no periódico Environmental Health Perspectives, Dra. Barbara e colaboradores descreveram o aumento de cinco vezes do risco de câncer de mama nas mulheres que tinham menos de 14 anos no momento em que foram expostas ao DDT.

Um estudo da Dra. Barbara e colaboradores publicado em 2015 no periódico Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism descreveu aumento do risco de câncer de mama entre as mulheres expostas ao DDT in utero.

No estudo em tela, os pesquisadores estenderam sua observação para as pacientes com câncer de mama diagnosticado logo após a menopausa (entre 50 e 54 anos de idade). Seu objetivo era determinar se a idade no momento do diagnóstico modifica a interação do DDT com a idade da exposição.

Os pesquisadores analisaram amostras de sangue armazenadas que haviam sido obtidas entre 1959 e 1967 durante a gestação, a cada trimestre e no início do puerpério.

Eles também usaram registros estaduais para identificar 153 casos de câncer de mama diagnosticados de 1970 a 2010 em mulheres entre 50 a 54 anos de idade. A seguir, os pesquisadores parearam cada paciente a 432 controles comparáveis sem câncer.

Os resultados mostraram que, para o câncer de mama logo após a menopausa, o DDT foi associado a quase o dobro do risco para todas as mulheres (OR para as mulheres entre 50 e 54 anos = 1,99; IC 95%, de 1,48 a 2,67).

Essa associação foi representada por mulheres expostas pela primeira vez ao DDT após a primeira infância (para as pacientes entre os 50 e 54 anos de idade expostas ao DDT pela primeira vez após a primeira infância, OR = 2,83; IC 95%, de 1,96 a 4,10; para as pacientes entre os 50 e 54 anos de idade expostas ao DDT pela primeira vez durante a primeira infância, OR = 0,56; IC 95%, de 0,26 a 1,19).

Contrariamente, para o câncer de mama antes da menopausa o DDT foi associado a risco entre as mulheres com menos de 50 anos cuja primeira exposição ocorreu durante a infância até a puberdade, mas não depois (OR = 3,70; IC 95% de 1,22 a 11,26).

Todas foram expostas, mas nem todas têm câncer
Praticamente todas foram expostas ao DDT, mas nem todas têm câncer, disse a Dra. Barbara. Perguntas importantes dizem respeito ao que está protegendo algumas pessoas e por que outras são vulneráveis aos efeitos deletérios dessa substância química.

"Algumas mulheres são expostas in utero, outras na primeira infância. Algumas não têm câncer. Se pudermos compreender como isso acontece, talvez o Santo Graal seja criar um marcador biológico de risco pretérito. Estamos trabalhando nesse sentido, tentando comparar a bioquímica sérica das mulheres que adoeceram à das mulheres sadias em relação à sua exposição ao DDT", disse Dra. Barbara.

"Todas as mulheres em nossa coorte foram expostas. Todas as pessoas no mundo foram expostas nos anos 60. Mas nem todos adoeceram. Estamos tentando entender qual é a resposta da mulher a essas substâncias químicas que a prejudica. Se pudermos encontrar um biomarcador assim, seria possível encontrar mulheres com esse biomarcador e talvez compreender como evitar que elas tenham câncer", disse a pesquisadora.

O estudo da Dra. Katherine Reeves e colaboradores foi subsidiado pelo National Institute of Environmental Health Sciences. O estudo da Dra. Barbara Conh e colaboradores foi subsidiado pelo National Institute of Environmental Health Sciences e pelo California Breast Cancer Research Program através do California Breast Cancer Research Program. Os autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

J Natl Cancer Inst. Publicado on-line em 10 de janeiro de 2019. Reeves et al, Abstract ; Cohn et al, Texto completo