segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Dores crônicas: os desafios do educador físico para recuperar a saúde do atleta

 No ambiente esportivo, seja ele amador ou profissional, a busca por otimização do rendimento é uma constante. Atletas de todos os níveis tentam superar suas marcas a cada treinamento. Mas nem sempre os resultados atendem as expectativas. É comum a ocorrência de lesões e dores crônicas quando a intensidade dos exercícios aumenta bruscamente.

Em casos assim, a atuação do profissional de educação física é fundamental. E uma das ferramentas que podem auxiliar a recuperação da saúde do atleta é a combinação entre reabilitação neuromuscular e treinamento funcional.

Personalizar o atendimento é um dos principais desafios para quem trabalha com educação física. Isso porque, aos poucos, o público se dá conta de que circuitos padronizados e repetitivos (comuns em academias) não têm ajudado a atingir ou manter resultados competitivos no esporte.

Nesse contexto, cabe ao profissional de educação física elaborar uma entrevista minuciosa para o aluno recém-chegado, podendo ainda aplicar pequenos testes com exercícios. A estratégia aponta os pontos fortes e fracos de cada aluno.

Com essas informações em mãos, o planejamento de aulas fica muito mais assertivo, sobretudo quando o aluno relata dores crônicas ou está saindo de uma lesão e precisa recuperar o ritmo da prática esportiva.

Estudo de caso

Jocelito Fernando Moraes, 52 anos, era atleta de ginástica aeróbica esportiva nos anos 1990. Por conta das atividades, ele desenvolveu dores lombares decorrentes de uma lesão após o encurtamento dos flexores de quadril. A condição desencadeou a compensação do quadril em outros pontos, gerando uma hérnia inguinal, umbilical e discal, também responsáveis pela dor crônica.

Mesmo após fisioterapia e diversas tentativas de reabilitação, a dor persistiu até 2018. Moraes, que também é educador físico, encontrou uma maneira de controlar a dor e melhorar seu desempenho quando foi buscou atualização profissional.

Ele realizou o curso Reabilitação Neuromuscular e Treinamento Funcional elaborado por Ivan Jardim, um especialista no tema. “Na primeira sessão com Ivan, já fiquei livre da dor por três horas. Quando ela voltou, foi mais fraca e gradativamente desapareceu” comenta.

Reabilitação nas dores crônicas

A estratégia de Jardim para a reabilitação está na atenção aos trilhos anatômicos, como são conhecidas as conexões internas entre os músculos e a rede fascial. São “caminhos” responsáveis pela estabilidade de movimentos e compensação postural. Por vezes, alguns músculos são inibidos pela dor e não desempenham suas funções de movimentação e equilíbrio corretamente. Isso leva ao recrutamento compensatório de outras áreas – como joelho, quadril e ombro, por exemplo. “O que o Ivan faz é reativar essa musculatura que havia sido inibida”, explica Moraes.

Um dos procedimentos adotados por Jardim para a liberação miofascial é o protocolo FNP (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva). A estratégia consiste num padrão de técnicas de contrações musculares do tipo concêntricas, excêntricas e isométricas. As ações são combinadas com exercícios de resistência gradual, ajustados para a necessidade individual do aluno.

No caso de Moraes, Jardim usou a seguinte combinação:

  • Liberação miofascial (manual e com acessórios);
  • Alongamento para conduzir as fibras de volta para o lugar;
  • Ativação isométrica com estática (utilizando borracha para a condução e resistência do movimento).
A dor, por si só, gera ansiedade. E a condição piora em casos crônicos, como o de Moraes. A reabilitação neuromuscular, assim, também tem papel regenerativo. Isso porque os exercícios exigem alta concentração (em função da persistência dos movimentos) combinada à respiração. A prática lenta e gradual dos movimentos estimula a neuroplasticidade. Ou seja, o cérebro se adapta à nova experiência e reaprende a forma correta do movimento.

Treinamento funcional

É comum alunos procurarem academias ou profissionais particulares em busca do treinamento funcional. Muitas pessoas, no entanto, encaram a técnica como um dos caminhos mais curtos para emagrecer, alcançar definição corporal ou melhorar resultados competitivos no esporte. O problema é que a aplicação de exercícios aleatórios sem uma anamnese inicial pode levar a lesões, dores crônicas ou agravar condições pré-existentes.

O caso de Moraes reflete a totalidade da reabilitação neuromuscular e do treinamento funcional. Aqui, o levantamento feito por Jardim sobre a condição de Moraes foi essencial para determinar a melhor rotina e prepará-lo para voltar à ativa. “Pode-se dizer que é um trabalho multidisciplinar. O próprio Ivan pede aos alunos uma avaliação ortopédica para assegurar que não há fratura e dar continuidade ao treinamento de forma segura”, explica Moraes.

O treinamento funcional aplicado à reabilitação neuromuscular, portanto, consiste na adaptação de exercícios de acordo com o perfil de cada aluno. Além de manter ativas as musculaturas antes inibidas, a prática previne novas lesões ao fortalecer regiões sensíveis.

“Não existe exercício contraindicado, mas existe aluno contraindicado àquele exercício”, afirma Moraes. “É preciso devolver o equilíbrio para que a pessoa possa voltar à sua condição física plena.”

Segundo ele, após ter começado as aulas, as crises de dores crônicas não atingem picos acima do nível dois (numa escala de 0 a 10) – bem inferiores às de nível oito com que conviveu durante mais de 20 anos. “Além dessa melhora, conhecer a reabilitação neuromuscular e o treinamento funcional me tornou um profissional muito melhor. Não tive essa preparação na graduação”, comenta.

Entre os benefícios apontados estão:

– Atendimento personalizado: “Atendo no máximo três alunos por vez, cada um desenvolvendo atividades diferentes de acordo com suas necessidades”, explica.

– Protocolo de anamnese: capacidade de identificar a origem dos problemas de cada aluno, a necessidade de encaminhamento para especialistas e melhor planejamento de exercícios adequados.

– Autonomia do aluno: assim como Moraes já conhece o treinamento adequado para seu caso, os alunos também passam a otimizar o treinamento reduzindo o risco de LER (Lesão por esforço repetitivo).

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