quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Diabetes tem relação com a sua rotina: entenda melhor


Todo mundo já sabe que o diabetes é uma doença cujas estatísticas têm aumentado todos os dias. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o diabetes tipo 2 está entre as 4 doenças não transmissíveis com maior prevalência no mundo todo! E sabe o que? É evitável! Agora uma vez instalada é muito difícil tratar… Hoje não existe tratamento ouro, mas a mudança de estilo de vida é uma das prioridades.

O diabetes tipo 2 é consequência de um estilo de vida não saudável?

O diabetes tipo 2 não se desenvolve de uma hora pra outra numa pessoa como é o caso do diabetes do tipo 1 que acontece quando o pâncreas pára de produzir insulina.

O diabetes tipo 2 é uma doença que se desenvolve bem mais lentamente… Ela começa geralmente com uma condição conhecida como resistência à insulina. A pessoa, ao contrário de um portador de diabetes tipo 1, produz insulina, mas as células são resistentes à ação da insulina. Então as células não reconhecem a insulina que é a responsável por abrir os canais por onde a glicose (o açúcar do sangue) passa para dar energia pras células. Se a glicose não entra nas células ele fica circulando em grandes quantidades no sangue e acho a essa altura você já adivinhou né? Hiperglicemia crônica e sofrimento celular!

Essa glicose em excesso no sangue leva às complicações metabólicas associadas à diabetes tipo 2: problemas na retina, nos rins, problemas na circulação, derrames e infartos.

Prevenção e tratamento no diabetes

O diabetes é uma doença que pode ser evitada se a resistência à insulina for detectada precocemente e a abordagem central na prevenção e tratamento da resistência à insulina é uma mudança no estilo de vida e se necessário, medicação.

Os estudos que tentam explicar melhor o que acontece no corpo no desenvolvimento do diabetes estão sempre focados em quantidade e qualidade de consumo alimentar, atividades físicas e medicação.

No entanto, outros fatores estão sendo investigados. Os fatores circadianos (relacionados aos ritmos biológicos) como excesso de exposição à luz durante a noite, o momento em que as pessoas comem durante o dia e ciclo sono-vigília são também muito importantes na prevenção e tratamento da resistência à insulina, como bem escreveu a nutricionista Rosana Dantas no seu livro “A melatonina não serve só para te fazer dormir”.

Distúrbios dos ritmos e diabetes tipo 2

Em uma revisão muito interessante recentemente publicada na revista Nature, pesquisadores descreveram como um distúrbio nos ritmos biológicos pode aumentar as chances de uma pessoa desenvolver resistência à insulina e diabetes tipo 2.

O sistema circadiano é regulado pelo ciclo claro/escuro ambiental, ou seja do dia e da noite durante as 24h e toda nossa fisiologia se adapta a essas mudanças que acontecem invariavelmente todos os dias da nossa vida!

Então nosso corpo durante o dia, tem um metabolismo diferente do que acontece durante a noite.

Alguns exemplos: o hormônio cortisol tem um pico no início da manhã que é uma hora em que o corpo precisa de energia para começar o dia. O cortisol, entre outras coisas, vai nos estoques energéticos buscar essa energia extra necessária pra gente se levantar e começar o dia (já que, normalmente, ficamos um jejum durante nossas horas de sono)! Outros hormônios relacionados diretamente com nosso metabolismo como a insulina e a leptina também têm seus picos durante o dia, já que, desde que o mundo é mundo somos seres diurnos e fazemos nossas refeições durante o dia!

Só que hoje temos luz elétrica, então acabamos ficando mais tempo acordados e pior, às vezes ficamos horas antes de dormir olhando pro celular ou pra TV… resultado? Dormimos mais tarde que nossos ancestrais e a fome acaba vindo e acabamos comendo neste momento onde não tem níveis de insulina suficientes para colocar a glicose dentro das células. Nosso corpo tolera melhor a glicose durante o dia e menos durante a noite. E esse excesso de glicose acaba ficando na circulação. Se isso acontece cronicamente a resistência à insulina pode se estabelecer.

Rotina é tão importante quanto comer e ser ativo!

O que acontece é que, se nosso comportamento está desalinhado com nossos ritmos biológicos, isso pode contribuir à um estresse metabólico e causar o desenvolvimento da resistência à insulina, ou seja, nossos ritmos de sono e vigília e de ingestão de alimentos devem estar alinhados aos ritmos dos nossos relógios biológicos que determinam os ritmos da circulação de vários hormônios no nosso corpo. Várias evidências têm confirmado a hipótese de que uma ruptura dos ritmos circadianos contribui para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.

Estudos em humanos mostraram que um desalinhamento dos ritmos leva uma queda na tolerância à glicose. Algumas alterações genéticas associadas à regulação dos ritmos levam à intolerância à insulina (A Rosana fala sobre isso muito bem no livro dela). Outros estudos têm associado resistência à insulina também a problemas na qualidade e duração do sono.

Eu acredito que em breve serão adicionados tratamentos com foco nos ritmos biológicos ao protocolo de prevenção e tratamento da resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes. Colocar os ritmos biológicos em evidência pode fazer parte do tratamento para várias patologias no (espero próximo) futuro.

2 comentários:

Rose Mantelli disse...

Excelente matéria. Eu gostaria de poder utilizar esse conteúdo em meu blog, também.

Dr. Frederico Lobo disse...

Ola. O texto não é de minha autoria.

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