terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Uso de adoçantes e refrigerantes sem calorias, Por Prof. Dr. Bruno Halpern

Hoje vou comentar um pouco a respeito de uma visão científica clínica sobre o uso de adoçantes e refrigerantes sem calorias, outro tema que sempre causa muita controvérsia. Não pretendo esgotar o assunto, mas simplesmente fornecer uma visão mais clara sobre a questão, e uso como referência um artigo recém-publicado, que estará na caixa de comentários. Focarei em questões relacionados a peso, principalmente, embora muitas outras discussões sejam possíveis e meu foco principal será na importância de retirar refrigerantes normais de nossa dieta e se, portanto, nesse caso, a substituição por refrigerantes dietéticos seria uma opção possível e eficaz.

Muitos torcem o nariz para adoçantes, baseados em estudos que vez por outra saem na imprensa, dizendo que estão associados a ganho e não a perda de peso, causam diabetes, mudam a microbiota, etc.

1 - Devemos tomar cuidado com estudos epidemiológicos, que não atribuem causa e efeito. Ou seja, se o consumo de adoçantes é maior em obesos, isso não significa que adoçantes engordam; podem apenas significar que quem luta contra a balança tem mais chances de usar adoçantes.

2 - Com certeza aprendemos muito com estudos em animais, mecanísticos, que sugerem efeitos os mais variados dos adoçantes (eu mesmo já escrevi um texto sobre um artigo excelente publicado na Nature que mostra, em animais, uma mudança da flora bacteriana em uso de alguns adoçantes). Porém, para a clínica do dia-a-dia é fundamental que nos fiemos em estudos randomizados, com pessoas. Quase a totalidade desses estudos demonstra que, em pessoas que consomem refrigerante com freqüência, a troca de refrigerantes normais por refrigerantes sem calorias leva a perda de peso e melhora de alguns fatores metabólicos.

Mas não seria melhor evitar todos os refrigerantes? Se você não liga para eles, sim. Mas, para quem gosta muito, uma troca radical por água poderia levar a duas situações desagradáveis:

1- não aderir a troca e manter o consumo de refrigerantes normais.
2- ao invés dos refrigerantes, consumir mais doces por outras vias.

ATENÇÃO: não estou dizendo que tomar refrigerante diet é melhor que água! Apenas que, naqueles que já consomem muito refrigerante, uma troca radical tem menos chance de ser efetiva.

Ainda ouvimos que adoçantes engordam por uma série de motivos, a maioria deles baseados em estudos em ratos.

Os três argumentos mais freqüentes são
1- adoçantes atrapalham o funcionamento cerebral, pois o nosso corpo acredita que, quando sentimos o gosto doce, haverá um excesso de energia chegando - quando esse estímulo não chega, haveria uma busca por outras formas de alimento
2 - o consumo de alimentos com gosto doce nos fazem querer consumir mais e mais alimentos doces (como um vício)
3- ao consumir adoçantes conscientemente, corremos o risco de comer outros alimentos calóricos por acharmos que estamos saudáveis.

Os dois primeiros argumentos caem por terra com uma série de experimentos já realizados (inclusive, ao contrário do que diz o número 2, muitos se satisfazem com o gosto doce dos adoçantes e optam menos por alimentos com açúcar). O terceiro pode, de fato ocorrer, mas não é uma atribuição somente dos adoçantes, mas de todos os alimentos que são rotulados como saudáveis (ao achar que estão consumindo algo saudável, as pessoas tendem a consumir uma quantidade maior).

Devemos lembrar, porém, que os adoçantes são muito diferentes entre si, e pode sim haver diferenças entre eles em relação à sinalização metabólica e outras questões. É possível que estudos mostrem que há opções melhores ou piores, e que algum efeito negativo possa de fato exsistir. Lembro sempre que a Ciência é mutável, pois se não não seria ciência e sim dogma. Os maiores estudos sobre o assunto tem 40 meses de duração (pouco mais que três anos), portanto, preocupações sobre efeitos a muito longo prazo não podem ser respondidas por esses estudos.

Porém, qualquer preocupação sobre o que não sabemos sobre os adoçantes deve ser menor do que o de fato sabemos sobre o açúcar: o consumo em excesso engorda, leva a piora metabólica e aumenta o risco de diabetes e gordura hepática (e secundariamente, portanto, a maior risco de doenças cardiovasculares e câncer). Ou seja, não há nenhuma razão para continuar consumindo açúcar em excesso por medo dos efeitos deletérios dos adoçantes.

Eu concluiria dizendo que não há espaço hoje em dia para refrigerantes normais para pessoas com problemas metabólicos e dificuldade com o peso. Nesse sentido, para aqueles que costumam consumir com freqüência, a troca do refrigerante normal pelo diet faz sentido como opção para reduzir o número de calorias. Quase todos (ou todos) os estudos que avaliaram essa troca encontraram resultados positivos, por pelo menos 40 meses. O mesmo vale para consumo de açúcar com café, suco, etc. A troca por adoçantes é melhor do que continuar a consumir açúcar em excesso.

Fonte: https://www.facebook.com/DrBrunoHalpern/posts/1182101461920302

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