terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O paradoxo da obesidade é uma ilusão na doença cardiovascular?

A obesidade não parece estar associada a uma melhor sobrevida em pessoas com doença cardiovascular incidente, argumentando contra a existência de um “paradoxo da obesidade” para doença cardiovascular (DCV) em tais casos, mostrou um grande estudo de coorte longitudinal dos EUA que começou em 1992.[1]

Por outro lado, houve um efeito protetor “forte e significativo” da obesidade em pessoas com DCV estabelecida – que é insuficiência cardíaca, doença cardíaca isquêmica ou acidente vascular cerebral (AVC) – quando entraram no estudo. Isso pode sugerir que a aparência de um paradoxo da obesidade é limitada à doença prevalente, afirmam os pesquisadores.

Juntos, os resultados sugerem que as afirmações de um paradoxo da obesidade na DCV podem, em grande parte, ser resultado de viés estatístico, de acordo com o artigo publicado em 29 de novembro de 2017 no periódico PLOS One.

“A perda de um paradoxo da obesidade ao mudar de casos prevalentes para incidentes, e o peso antes do diagnóstico no mesmo conjunto de dados, sugerem que os modelos de prevalência apresentam vieses por fatores como perda de peso relacionada à doença e sobrevida seletiva”, disse a autora principal, Virginia W. Chang (NYU College of Global Public Health, Nova York, NY), ao Medscape.

“Há uma literatura provocativa e interessante sugerindo que a obesidade pode ser protetora, ou reduzir o risco de morte em comparação com o peso normal em pessoas com doença cardiovascular”, explicou a Dra. Virginia, “embora a obesidade seja, antes de tudo, um fator de risco importante para se ter DCV”.

O assunto é difícil de estudar “porque, uma vez que você tem doença cardiovascular, as pessoas mais doentes tendem a perder peso, o que pode artificialmente fazer com que a obesidade pareça protetora. A relação torna-se confusa neste cenário”, disse a pesquisadora.

“Você também pode ter a situação na qual pessoas obesas com doença mais grave morrem mais cedo, restando uma população de obesos mais selecionada, que é mais saudável. Isso significa que se pode observar um benefício de sobrevida por ser obeso, mas nada disso aponta para obesidade como fator causal oferecendo qualquer tipo de proteção”, disse ela.

“Dado que muitas doenças resultam em perda de peso no final da vida, a ideia de que a reserva catabólica extra possa prolongar a sobrevida faz sentido intuitivo. Existem também explicações relacionadas a vários processos inflamatórios e neuro-hormonais”, ressaltou.

“No entanto, apesar da plausibilidade dessas hipóteses, não encontramos evidências de um paradoxo da obesidade ao usar métodos menos susceptíveis a vieses”.

O estudo analisou a associação entre obesidade e mortalidade em pessoas com DCV, comparando casos de doença incidente e prevalente no mesmo conjunto de dados.

Eles usaram dados do Health and Retirement Study, uma pesquisa longitudinal em curso, e nacionalmente representativa de adultos dos EUA com 50 anos ou mais. Iniciado em 1992, o estudo envolve questionários de mais de 30 mil pessoas para solicitações ao Medicare,  seguro de saúde pago pelo governo dos Estados Unidos a pacientes idosos.

Ao avaliar a DCV prevalente, Virginia e equipe usaram os pesos atuais dos pacientes; ao estudar a doença incidente, eles usaram pesos dos pacientes antes do diagnóstico.

Um paradoxo forte e significativo da obesidade foi observado em pacientes com doença cardiovascular existente. O risco de morte foi 18% a 36% menor para pessoas com índice de massa corporal (IMC) de 30 a 34,9 em comparação com as de peso normal.

No entanto, em modelos de doença incidentes das mesmas condições dentro do mesmo conjunto de dados, não houve indicação de benefício de sobrevida para a obesidade.

“Se a obesidade é protetora e, ainda assim, nós pedimos aos pacientes que percam peso, podemos involuntariamente provocar um efeito negativo. Mas não encontramos evidências que embasem isso”, disse ela.

“Nossos resultados não justificam reavaliação de diretrizes em busca de um potencial paradoxo da obesidade”.


O estudo foi financiado por Clinical Translational Research Award da American Diabetes Association e do National Institute on Aging. Os autores declararam não ter relações financeiras relevantes.

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6501858?src=soc_fb_171229_mscpmrk_portpost_6501858_obesidadeilusaocardio

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