terça-feira, 21 de novembro de 2017

Uso de Testosterona por mulheres

Por Dra. Ruth Clapauch – A reposição de testosterona em mulheres, antigamente prescrita para tratar uma suposta “síndrome de deficiência androgênica”, deixou de ser realizada após inúmeros posicionamentos, recentemente reunidos em um consenso de diferentes sociedades médicas europeias e americanas [1]. Este documento estabelece que:

  • Os métodos de dosagem de testosterona disponíveis atualmente foram feitos para homens, que têm valores de testosterona 3 a 10 vezes superiores aos das mulheres. Esses métodos não conseguem dosar de forma confiável valores mais baixos, normais para as mulheres
  • Em situações em que haja uma base fisiopatológica para o baixo nível de testosterona, como em mulheres ooforectomizadas, por exemplo, não há sintomas ou sinais clínicos característicos que possam ser atribuídos à diminuição da testosterona, como cansaço, redução de massa muscular ou libido prejudicada em relação às demais mulheres.

No entanto, devido a seus efeitos estimuladores, a testosterona vem sendo usada em homens e mulheres em doses farmacológicas, elevando os níveis séricos nas mulheres para além de 100 ng/dL, acima da faixa de referência (estes, sim, dosáveis, pois se aproximam dos masculinos), apesar de não haver qualquer recomendação nem estudos conclusivos acerca de benefícios e riscos a longo prazo.

Os objetivos dessa prática não aprovada são:

  • Estéticos: aumento de massa muscular, com transformação de parte da gordura em músculos (efeito bem conhecido do doping atlético)
  • Energéticos: redução de cansaço, maior capacidade de fazer exercícios
  • Comportamentais: excitação, humor menos deprimido
  • Sexuais: aumento de libido.

Esse uso, porém, envolve diversos riscos. Em uma revisão recente incluindo 35 estudos randomizados com 5.035 mulheres [2] que usaram doses ligeiramente suprafisiológicas, observou-se redução significativa de HDL-colesterol e aumento de LDL-colesterol, acne e hirsutismo.
Com níveis maiores foram descritos queda de cabelos e engrossamento da voz, geralmente irreversíveis.

A testosterona sabidamente aumenta a gordura visceral em mulheres, o que está associado a maior resistência insulínica e risco aumentado de diabetes. Além disso, há aumento do hematócrito, risco de policitemia e maior viscosidade sérica, retenção de líquidos e elevação da pressão arterial.
Outra preocupação é que a testosterona se aromatiza em estrógenos, o que pode estimular receptores na mama e no endométrio e potencialmente aumentar o risco de proliferação e câncer.

É também importante mencionar o impacto da testosterona no fígado e a susceptibilidade que determinados indivíduos podem ter a tumores hepáticos.

Portanto, não há estudos que garantam a segurança do uso de testosterona em mulheres, e não há dose segura.

Referências bibliográficas

  • Wierman ME, Arlt W, Basson R et al. Androgen therapy in women: a reappraisal: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3489-510.
  • Elraiyah T, Sonbol MB, Wang Z et al. Clinical review: The benefits and harms of systemic testosterone therapy in postmenopausal women with normal adrenal function: a systematic review and meta-analysis. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3543-50.

Sobre o autor: Ruth Clapauch é PhD em Biociências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Medicina (Endocrinologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Visitante da UERJ. Orientadora de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (FISCLINEX) da UERJ, grau 7 da Capes. Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Endocrine Society. Presidente da Comissão de Educação Médica Continuada e Vice-Presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM.

Fonte: http://genmedicina.com.br/2017/03/27/uso-de-testosterona-em-mulheres-dra-ruth-clapauch/

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Revisão sistemática comprova não haver benefício da dieta cetogênica no combate ao câncer

Pesquisadores alemães apresentaram no último congresso europeu de nutrição (ESPEN, Holanda) uma revisão sistemática de 500 estudos clínicos sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer publicados entre 1980 e outubro de 2016. A conclusão é que em nenhum deles foi observada diminuição da progressão tumoral nem melhora na qualidade de vida dos pacientes submetidos a esse tipo de restrição alimentar. O tema também foi discutido no Fórum de Nutrição e Oncologia realizado na I Semana Brasileira da Oncologia, no Rio de Janeiro, em outubro.

“Em torno de 30% a 40% dos pacientes oncológicos que nos procuram no consultório querem a dieta cetogênica porque acreditam que ela vá curar o câncer”, revela a Dra. Georgia Silveira de Oliveira, nutricionista, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenadora do Fórum. “É uma fantasia preocupante”, avalia. A especialista alerta que, além de nenhum impacto na sobrevida, a deficiência nutricional muitas vezes leva à perda de massa muscular em um curto período de tempo, o que compromete o tratamento da doença.

A dieta cetogênica foi documentada pela primeira vez em 1911. O interesse pelo seu uso ganhou força em 1990, quando houve resultados positivos no manejo de pacientes com um tipo de epilepsia intratável até então. Em 2005 e 2008, foram publicados os primeiros ensaios controlados e aleatorizados no campo da epilepsia e começaram a ser explorados os mecanismos, a eficácia, a segurança e as ações terapêuticas da dieta cetogênica para outras doenças, como o câncer.

Obstáculos na pesquisa

Entre os 500 trabalhos encontrados pelos alemães, há revisões sistemáticas e meta-análises, estudos controlados randomizados, estudos controlados não aleatorizados, estudos não controlados (monitoramento de processos, estudos não controlados antes e depois, séries de análises temporais), estudos observacionais, séries de casos e estudos de caso. Nenhum deles teve um projeto metodológico rigoroso, conforme os autores. A maioria avaliou apenas a viabilidade, a qualidade de vida e a adesão do paciente à dieta cetogênica isocalórica.

A própria adesão dos pacientes mostrou-se um grande problema: somente 37% dos pacientes que seguiram a dieta ou 20% de todos os pacientes incluídos nesses 500 ensaios conseguiram aderir às recomendações dietéticas durante todo o período de estudo. “Os trabalhos são limitados pelo tamanho da amostra e pela falta de homogeneidade do tipo, localização e estágio do câncer e, portanto, os resultados não podem ser comparados”, afirmam os investigadores.

Segundo os autores da revisão sistemática, a baixa taxa de aceitação da restrição alimentar pelos pacientes aponta para seus próprios efeitos negativos sobre a qualidade de vida, que muitas vezes podem ser erroneamente atribuídos às terapias convencionais ou à progressão do câncer.

Contramão das diretrizes

A Dra. Georgia ressalta que todas as modalidades de dieta isocalórica vão na contramão das diretrizes nutricionais para pacientes com câncer seguidas no mundo inteiro. As contraindicações são numerosas. Os efeitos colaterais sobre coração, fígado, rim, pâncreas e ossos devem ser avaliados cuidadosamente em paciente oncológicos com comorbidades ou em uso de medicamentos que possam sobrecarregar esses órgãos (por exemplo, regimes de cisplatina).

De acordo com a nutricionista, não há estudo em andamento no Brasil sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer. Nos Estados Unidos e na Europa, existem alguns. “O mecanismo é tão imaturo e tem se mostrado tão perigoso que inviabiliza um estudo bem desenhado, com grupo-controle, que seria o ideal em termos de evidência científica”, diz. “O paciente que faz esse tipo de dieta fica muito vulnerável, o que pode tornar o câncer mais oportunista e agravar os seus sintomas, inclusive a dor.”

Fonte:

http://sboc.org.br/noticias/item/1113-revisao-sistematica-comprova-nao-haver-beneficio-da-dieta-cetogenica-no-combate-ao-cancer

Gastrofísica - O que é e qual sua aplicabilidade ?




Ultimamente alguns profissionais da área da saúde, em especial nutrólogos e endocrinologistas estão sendo questionados por pacientes sobre conceitos de Gastrofísica.

Amada ou odiada, a gastronomia molecular tem sido um dos mais influentes movimentos alimentares da última década. Mas, como o conceito está um pouco gasto, uma nova abordagem científica (com um nome novo misturando comida e ciência) vem ganhando força: a Gastrofísica. 

O conceito de gastrofísica foi criado pelo professor de psicologia experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Prof. Dr. Charles Spence, no seu livro “Gastrophysics: The New Science of Eating by Charles Spence“. 


No livro ele defende a teoria de que se sentir satisfeito após uma refeição tem muito mais a ver com a sua mente, do que com o que está no prato. A gastrofísica estuda os fatores que influenciam as escolhas alimentares. Não só por que gostamos de comer carne de gado e não insetos, mas também as razões que nos levam a pagar mais por um prato ou uma garrafa de vinho. 

Spence aponta que somos bem suscetíveis a fatores em nada relacionados ao sabor. A nossa percepção do sabor pode mudar de acordo com vários fatores. O aroma e a nossa total apreciação da comida são influenciados por todos os sentidos (sim, até mesmo pela audição), da mesma forma que o nosso humor e expectativas.

Spence e seus gastrofísicos contemporâneos, que trabalham em áreas que vão da psicologia, da neurociência e das ciências sensoriais ao marketing, à economia comportamental e ao design – não falam sobre o “gosto de” uma refeição. Em vez disso, dizem o “sabor de”, porque sabem que o gosto, que tecnicamente só acontece na língua, é uma parte insignificante do efeito global.

Grande parte dos achados de Spence e de seus colegas fazem sentido instintivo, como o que revela que a comida colocada no prato de forma bagunçada não terá o gosto tão bom como aquela organizada perfeitamente ou artisticamente. 

E que grande parte desse corpo de conhecimentos foi usado pela Grande Indústria para manipular os consumidores desde a década de 1930, quando os fabricantes da 7-Up já sabiam que quanto mais amarela a lata, mais cítrico o sabor da bebida.  Ou que quanto mais arredondado (o produto ou o seu logotipo) mais doce ou quanto mais pontudo mais amargo.

A luz ambiente, por exemplo, pode alterar o julgamento sobre o gosto do vinho. Talheres pesados fazem a comida parecer mais gostosa. A consequência direta é que, ao se manipular fatores assim, é possível levar alguém a achar que insetos são gostosos. 

E esse não é um exemplo fictício: a equipe de Spence está de fato trabalhando na percepção humana sobre o sabor dos artrópodes. No futuro, diante de um cenário em que animais como frangos e porcos seriam insuficientes, o consumo dos bichinhos nojentos pode ser necessário. “Há indícios de que precisaremos seguir rumo a uma dieta em que eles sejam importantes fontes de proteínas”, disse Spence ao site da Revista GOSTO, após voltar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde realizou uma série de jantares.

Uma das conclusões é que o ângulo de posicionamento da comida no prato pode levar os clientes a gostar mais dele e, consequentemente, pagar um valor maior.

No seu livro The Perfect Meal: The Multisensory Science of Food and Dining (ainda sem título em Português) lançado no ano passado, ele dá algumas dicas:

1. Quem janta sozinho come menos. A gente ingere 35% mais alimentos com a companhia de uma pessoa e 75% com três pessoas ou mais. A variedade também incentiva a comer demais. Uma bacia de M&Ms multicoloridos vai terminar mais rápido do que uma tigela com os mesmos doces, mas de uma cor só.

2. A cor é mais importante que o gosto. Num teste com enólogos, Spence serviu um vinho branco tingido de vermelho e colocou ambos – original e o alterado – para degustação. Resultado: a percepção sobre cada vinho mudou completamente, apesar de se tratar de exatamente a mesma bebida. Analisaram também a influência da cor do prato sobre o consumo de alimentos. Ocorre que pratos vermelhos são um meio de reduzir a ingestão de alimentos. O fato parece estar relacionado ao menor contraste entre a comida e o prato. Também foi demonstrado que a iluminação azul desencoraja excessos alimentares. Você pode argumentar que essas estratégias são semelhantes às que cobrem a sua comida com quantidades intragáveis ​​de sal. Quem quer um prato cheio de comida sem gosto?

3. Comida cara tem gosto melhor. Os gastrofísicos gostam do artifício e têm demonstrado que, se pagamos mais por um vinho, vamos achá-lo mais saboroso. O peso também implica qualidade. Se nos são dados talheres pesados, vamos gostar mais do alimento (por exemplo, um iogurte será percebido como sendo mais cremoso), pensaremos ser de qualidade superior e estaremos mais dispostos a pagar mais por ele. Mesmo o som ambiente em restaurantes pode elevar a conta: música clássica faz com que os comensais escolham as opções mais caras do menu, enquanto a música alta aumenta as vendas de refrigerantes.

4. Segure o prato nas mãos. Aqui vai uma curiosidade sobre seu cérebro: ele não faz uma distinção entre o peso do alimento e o da louça que você está usando na hora de comer. O que isso significa? Que ao segurar o prato em suas mãos, sua mente entende que a refeição que você está prestes a fazer é substancialmente mais pesada. Aí, ela assume, por conta própria, que você está consumindo uma quantidade maior de alimento – mesmo que a realidade não seja exatamente essa.

5. Concentre-se na comida. Algo já dito pelo pessoal que estuda Mindful eating (Download gratuito do meu Ebook sobre o temaMindful eating - Comer consciente). 
Quanto mais você se envolver com sua refeição, mais satisfeito fica. “Usar o tato, a visão, o olfato, o paladar e a audição na hora de comer faz com que você sinta menos fome com o passar das horas”, confirma Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. É que nosso cérebro só decide que está na hora de parar de comer depois que teve tempo de aproveitar todas essas sensações.

6. Chame a sobremesa de doce. A dica pode soar um pouco estranha, mas Spence jura que funciona. Não custa tentar: em vez de saborear aquele pedaço de torta de maçã, experimente apreciar a torta “doce” de maçã. Quando a sobremesa recebe a nomenclatura, sua mente acaba sentindo como se estivesse trapaceando na dieta e acionando aquele famoso sistema de recompensa.

7. Imagine-se comendo o que quiser. Só o ato de pensar em devorar aquele bolo de chocolate já é suficiente para matar a vontade. “Comer mentalmente é uma das melhores estratégias para evitar a compulsão”, conta Zilli. E a tática também tem um efeito positivo no longo prazo: quanto mais você visualizar o prato sendo devorado, menos vontade você sentirá de realmente consumi-lo.

8. Aperte o play. Ouvir música durante a refeição pode ajudá-la a comer com mais calma. “Mas isso só vale para canções tranquilas e suaves, como as clássicas, que relaxam o organismo”, diz o especialista. Então, enquanto estiver sentada à mesa, evite as faixas agitadas: elas estimulam uma mastigação mais rápida, o que aumenta a quantidade de alimentos que você acaba ingerindo em uma só sentada.

9. Filme ou programas tristes te fazem comer mais. O professor Brian Wansink da Cornell Brand and Food Lab é um dos gastrofísicos famosos. Assistindo a filmes tristes, sua equipe recentemente percebeu o drástico aumento do descontrole alimentar. Espectadores assistindo filmes tristes mastigam 55% mais pipoca do que aqueles que assistem Comédias. Da mesma forma, comer na frente da TV é uma má ideia, porque você simplesmente não percebe seu corpo lhe informar que está cheio.

10. Quem decide ganha. Se você costuma sentir que fez a escolha errada em um restaurante, então saiba que: quem escolhe primeiro tende a gostar mais da comida ou da bebida. Os que escolhem depois tendem instintivamente a rejeitar o que já foi escolhido (fenômeno psicológico chamado de “necessidade de unicidade”) e acabam optando por algo que normalmente não escolheriam.

Fontes:

  • https://www.theguardian.com/commentisfree/2015/jun/03/change-way-you-eat-gastrophysics-mealtimes
  • https://www.portalgosto.com.br/chales-spence-gastrofisica/
  • https://pogatec.com.br/5-dicas-da-gastrofisica-para-perder-peso/


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Alimentação Consciente, Mindful eating, Atenção plena

Muita gente tem mandado e-mail pedindo dicas de livros sobre Atenção plena, Comer Consciente, Mindful eating. Resolvi então elaborar um post com algumas dicas de livros. Além de informar que tenho um e-book sobre o tema, com várias técnicas de mindful eating.

Deixo sempre claro para meus pacientes de nutrição comportamental não é para todos e que infelizmente há pacientes que necessitam sim de restrição alimentar, por ter alguma doença de base. Porém é uma estratégia super válida, que tem se mostrado muito eficaz principalmente quando se visa restaurar uma relação de paz com a comida. É visível a redução da ansiedade e nível de estresse dos pacientes obesos que são submetidos a esse tipo de método.

Dicas de livros sobre Comer consciente
  • O peso das dietas - Dra. Sophie Deram
  • Mindful Eating - Filomena Nascimento 
  • Atenção Plena: Mindfulness - Mark Williams e Danny Penman
  • Armadilhas da Dieta - Judith S. Beck 
  • A Armadilha das Dietas - Jason Lillis 
  • Liberte-Se da Fome Emocional - Geneen Roth 
  • Você tem fome de quê ? Confiança e Viver com Leveza - Deepak Chopra
  • E Foram Magros e Felizes Para Sempre? - Elisabeth Wajnryt
  • Atenção Plena. Mindfulness - Padraig Omorain 
  • Mente Magra, Corpo Magro - Melinda Boyd 
  • Nutrição Comportamental - Marle Alvarenga e Manoela Figueiredo
  • Descobrindo o Prazer Além da Comida - Geneen Roth
  • Mulheres Comida e Deus - Geneen Roth