quinta-feira, 12 de março de 2015

Gota e Hiperuricemia: como a nutrologia pode auxiliar



A gota é uma doença inflamatória e metabólica que cursa com aumento do ácido úrico (AU) no sangue (denominamos isso de hiperuricemia). A doença é resultante da deposição de cristais de monourato de sódio nos tecidos e articulações, ocasionando dor intensa e sinais inflamatórios nas articulações acometidas.

Nos homens com hiperuricemia, os níveis de AU no sangue estão acima de 7,0 mg/d e nas mulheres: acima de 6,5mg/dL. Mas é importante frisar que nem todo portador de hiperuricemia terá gota, ela pode ser apenas consequência de outras patologias (como por exemplo a obesidade). E nem todo portador de gota tem hiperuricemia.

A hiperuricemia primária pode usar com 4 condições:
1.      Hiperuricemia sem sintomas
2.      Gota úrica
3.      Calculose renal
4.      Nefropatia intersticial

Mesmo nos pacientes assintomáticos, hoje já se sabe que a elevação do AU pode favorecer um declínio da função renal. Além disso, alguns autores consideram o aumento de AU como um fator de risco cardiovascular independente. Tanto a deterioração da função renal quanto aumento do risco cardiovascular ocorrem porque os níveis elevados promovem uma alteração na parede dos vasos.

É comum também os níveis estarem aumentados secundariamente:
1.      Nos quadros de resistência à ação da insulina, diabetes e obesidade.
2.      Quando paciente ingere muito álcool, muita proteína (miúdos, frutos do mar) ou muita frutose.
3.      Com a utilização de alguns diuréticos e Aspirina.
4.      Pacientes com insuficiência renal.
5.      Algumas doenças hematológicas.
6.      Na restrição alimentar, pois, o jejum inibe a excreção do AU via trato urinário.
7.      Pós-cirurgia bariátrica.

O diagnóstico se dá principalmente pela dosagem de ácido úrico no sangue.

Na fisiopatologia temos uma hiperprodução de urato, associada a uma diminuição da excreção de AU. Há séculos se propõem restrições alimentares para diminuir os níveis de ácido úrico. As revisões mais atuais mostram que a dieta (restritiva) não é tão eficaz nessa redução e mudanças no estilo de vida são prioritárias. 

O tratamento objetiva reduzir os níveis de AU. Ao contrário do que por quase 1 século foi propagado, a ingestão de carne magra, seja branca ou vermelha, geralmente não promovem aumento dos níveis. Outros fatores são muito mais importantes para redução dos níveis e o seu nutrólogo poderá orientar melhor.

A ingestão adequada de água é essencial para o tratamento por promove uma maior diurese. Nos casos em que os níveis (mesmo assintomático) estão muito elevados é prudente se utilizar uma medicação chamada Alpurinol ou Febuxostat.


A terapia nutrológica objetiva:
1.      Diminuir a quantidade de Purinas (substâncias que levam a maior produção de AU) para menos de 400mg/dia,
2.      Aumentar a excreção (eliminação) do AU. 

Como a obesidade favorece muito a elevação de AU, recomenda-se a perda de peso. Reduzir o consumo de frutose industrializada.  As carnes por muito tempo foram consideradas vilãs para o AU. Na atualidade não há evidências que consumidas nas porções habituais elas possam elevá-lo. As que mais possuem purinas são: miúdos (fígado, rim, coração, moela). Carne vermelha pode ser consumida diariamente (moderadamente), assim como pescados, frango e porco. O nutrólogo saberá calcular a quantidade correta de proteína que você deverá ingerir diariamente.

Um estudo Japonês em Maio de 2014 analisou a quantidade de purina em 270 alimentos e a repercussão deles nos níveis séricos de AU. Os vegetais com maior teor de purina deveriam ser consumidos em grande quantidade para gerar uma repercussão nos níveis séricos de AU. Quem consome 100g de alga nori, salsa ou espinafre por exemplo? O consumo de legumes é liberado assim como de cereais integrais e vegetais, oleaginosas, ovos e lácteos,

O álcool é sabidamente um elevador do AU e pode desencadear crises de gota. Portanto está liberado no máximo 1 dose/dia e apenas nos finas de semana (1 dose de álcool = 250 ml de cerveja, 125 ml de vinho ou 80 mL de destilados)

Alguns estudos mostram que alguns alimentos e nutrientes podem favorecer a redução dos níveis de AU. O nutrólogo é o profissional mais capacitado para fornecer orientações nutrológicas acerca de hiperuricemia.

Referências:
  1. VALDIVIELSO, JLA; LARIO, BA. Revision: Hiperuricemia y gota: el papel de la dieta. Nutr Hosp. 29(4):760-770, 2014. 
  2. YAMAOKA, N; et al. Review: Total Purine and Purine Base Content of Common Foodstuffs for Facilitating Nutritional Therapy for Gout and Hyperuricemia. Biol Pharm Bull. 37(5): 709–721, 2014.
  3. CAMPBELL, H; et al. The Association of Dietary Intake of Purine-Rich Vegetables, Sugar-Sweetened Beverages and Dairy with Plasma Urate, in a Cross-Sectional Study. PLoS One. 7(6): e38123, 2012.
  4. SUI, X; et al. Uric acid and the development of metabolic syndrome in women and men. Metabolism. 57:845–852, 2008.
  5. UK Gout Society website. 15 http://www.ukgoutsociety.org/docs/2009FinalDietsheet.pdf. 
  6. CHOI, HK; CURHAN, G. Soft drinks, fructose consumption, and the risk of gout in men: prospective cohort study. Bmj.336:309–312, 2008.
  7. CHOI, HK; CURHAN, G. Fructose-rich beverages and risk of gout in women. Jama. 304:2270–2278, 2010.
  8. EP, O; MORETO, F; SILVEIRA, LV. Dietary, anthropometric, and biochemical determinants of uric acid in free-living adults. Nutr J. 12:11, 2013.
  9. CHOI, HK. A prescription for lifestyle change in patients with hyperuricemia and gout. Curr Opin Rheumatol. 22(2):165-72, 2010.
  10. TORRALBA, K; et al. The interplay between diet, urate transporters and the risk for gout and hyperuricemia: current and future directions. Inter J  Rheumatic Diseases, 15: 499–506, 2012.
  11. CARMO, I; et al. Estratégias para Intervenção Nutricional na Hiperuricémia e Gota. Rev Nutricias. 19: 28-31, APN, 2014

0 comentários:

Postar um comentário

Propagandas (de qualquer tipo de produto) e mensagens ofensivas não serão aceitas pela moderação do blog.